Meu comentário de 6a. feira sobre os efeitos psicológicos da crise econômica mundial geraram algumas reações de leitores que merecem reflexão. Talvez eu não tenha sido muito claro: não quis dizer que a crise é “apenas” efeito das notícias ruins que saem todo dia na imprensa; apenas, que o noticiário ruim tem, sim, influência para agravar o pessimismo dos empresários e de todos os que têm por função decidir investimentos nas empresas (leiam aqui).

Curiosamente, este é o teor de um artigo do Washington Post, traduzido no Estadão de hoje, sob o título “O papel do medo no mercado“. O articulista comenta justamente a paranóia em que se transformou o mercado financeiro, com as notícias circulando numa velocidade tão grande que acabam tendo um efeito gangorra, ou seja, oscilações praticamente a cada minuto. “O psicológico e o emocional constituem boa parte daquilo que impulsiona o mercado. Estamos obviamente passando por um momento extremamente emotivo e esquizofrênico”, é o relato de um analista de Wall Street, citado pelo jornal.

Transportando esse clima para o Brasil, o que tenho sentido nos últimos dias é um efeito cascata que pode trazer conseqüências ruins para o País e as empresas. Soube de empresários que estão demitindo equipes inteiras porque dois ou três contratos foram cancelados. Não acho, como alguns, que o Brasil ficará imune à crise internacional. Claro, ninguém ficará. Mas a situação hoje é bem diferente de, por exemplo, 1999 ou 2002, quando as crises pegaram o País literalmente desarticulado.

Desta vez (e aí é preciso reconhecer o mérito do governo), houve o cuidado de se antecipar a possíveis crises como esta. O mercado interno se ampliou e há dinheiro em circulação, embora – como sempre – os bancos estejam segurando para tirar o máximo proveito do clima de incerteza. O problema é que, como diz lá o artigo, as notícias viajam tão rápido que um balanço trimestral ruim de determinada empresa, por exemplo, pode desencadear medidas intempestivas das outras, gerando uma bola de neve esquizofrênica.

Mais do que nunca, é preciso cuidado com o que se lê e se ouve.

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