stringer3Howard Stringer (foto), o primeiro executivo não japonês que chegou à presidência de uma grande corporação tecnológica japonesa (a Sony), está sendo atacado por todos os lados. No ano fiscal que terminou em março, o grupo experimentou o primeiro prejuízo de toda a sua história. E não foi pouco: simplesmente 1 bilhão de dólares. Pior: a previsão para o próximo ano fiscal é de mais US$ 1,26 bilhão no vermelho. E as medidas que Stringer anunciou no final do ano passado – entre as quais o fechamento de seis fábricas e a demissão de 16 mil funcionários – até agora não fizeram o menor efeito: os prejuízos continuam se acumulando.

Em meio a esse turbilhão (chegou-se a publicar que ele estaria com os dias contados na empresa), Stringer deu na semana passada uma longa entrevista ao jornal Nikkei Shinbum, tentando explicar o que, afinal, está dando errado. Segundo ele, não é apenas a recessão mundial, que derrubou as exportações japonesas. Há outros fatores. Um deles – o mais polêmico – é o que Stringer chama de “sistema gerencial envelhecido” em vigor hoje nas empresas japonesas. Um sistema, diz ele, em que jovens e brilhantes engenheiros não se sentem à vontade trabalhando com seus colegas mais velhos, porque estes insistem em dar as ordens – uma longa tradição do País, pela qual sempre se deve dar prioridade aos mais velhos. “O Vale do Silício foi criado por gente com menos de 30 anos”, lembrou Stringer. “Por que não existe um Vale do Silício no Japão? Porque este é um sistema envelhecido. Não quero acabar com os engenheiros mais velhos, mas quero que eles se juntem aos jovens, para que assim criemos produtos melhores”.

Stringer, que não é propriamente um jovem (já tem 67 anos), trouxe para a Sony uma mentalidade ocidental. Mas, visivelmente, está encontrando dificuldades em implantar sua filosofia de trabalho numa empresa com mais de 60 anos de existência e que sempre foi líder de mercado. Acusam-no de não respeitar as tradições da Sony. “É mentira”, ele se defende. “A tradição da Sony é de inovar. O velho Akio Morita nunca ficou olhando para o passado, sempre projetou o futuro pensando em conquistar novos consumidores”.

O risco que as empresas japonesas correm, no entender de Stringer, é ficarem buscando no passado explicações para a crise atual, quando na verdade as respostas estão no futuro. “Não digo que os japoneses serão derrotados por coreanos e chineses. Mas o país tem que se adaptar às mudanças do mundo. Caso contrário, nem Deus irá garantir um futuro de sucesso”.

Resta saber agora como os japoneses – que pagam o salário de Stringer – responderão a esse desafio (leia aqui a íntegra da entrevista).

1 thought on “Encruzilhada japonesa

  1. Quem diria…

    E pensar que Steve Jobs baseou-se em vários momentos nas inovações tecnológicas desenvolvidas pela Sony. Ontem Jobs era um desconhecido e a Apple um pequeno nicho, e hoje, a mais badalada empresa de tecnologia de uso pessoal do planeta. O mundo gira…
    No livro “A cabeça de Steve Jobs”, o autor Leander Kahney cita em um dos capítulos que Jobs comentou em seu retorno à Apple em 1997 que a Sony possuia milhares de produtos em inúmeras categorias, e que a Apple não podia se dar a este luxo, que foi o que ele encontrou quando retornou à empresa.
    Não só a Sony, mas centenas de empresas de tecnologia atuais estão totalmente perdidas em inovar de modo inteligente e mais sintonizado com as necessidades dos consumidores. Tentando preencher todas as lacunas, os grandes e médios fabricantes da indústria eletrônica jogam para todos os lados, deixando de lado detalhes substancias que facilitem e realmente envolvam o cliente – exatamente como a Apple vem fazendo.

    Realmente o mundo está passando por uma série de mudanças na primeira década do século XXI. É só refletir um pouco sobre o mamute chamado General Motors e outras do setor, que terão de se reinventar (com todo o dinheiro, prestígio e pujança de décadas) para tentar conseguir sobreviver daqui para frente.

    Parabéns pelo artigo Orlando.

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