livroculto01O livro “A Cauda Longa”, do jornalista americano Chris Anderson, foi sucesso mundial anos atrás, ao mostrar – como ninguém tinha feito antes – o impacto real da internet nos negócios das empresas e nos hábitos dos consumidores. Na esteira desse sucesso, Anderson, que é editor da excelente revista Wired, publicou este ano mais um livro sobre o mesmo assunto. Chama-se “Free” (“Grátis”, na tradução em português) e radicaliza a proposta: tudo na internet agora deve ser gratuito, o consumidor não vai mais aceitar pagar por nada e os produtores de conteúdo terão que se virar para manter seus sites.

Pois bem, as idéias polêmicas de Anderson ganharam um forte inimigo na figura de Andrew Keen, que além de jornalista tem longa experiência profissional em tecnologia – tentou ser empreendedor e descobriu que, mesmo no Vale do Silício, onde se concentram centenas de empresas do ramo, é difícil se manter sem capital. Dessa experiência resultou o livro “O Culto do Amador”, escrito em 2007 como uma espécie de resposta (assumida) a “A Cauda Longa”. Keen acusa a maioria das empresas que atuam na web de terem sido “amadoras” até hoje, na crença de que poderiam se manter fornecendo conteúdos de graça. Achei curioso que suas opiniões batem com algumas que já expressei aqui neste blog.

Na semana passada, Keen esteve em São Paulo e deu entrevista ao Caderno Link, do Estadão (publicada hoje). Ele é contra o que chama de “ditadura do Google”, que primeiro rouba os conteúdos dos outros e depois os chama para negociar, usando seu enorme poder econômico. Lembra ainda que a Wikipedia, primeira enciclopédia virtual do mundo, já abandonou seu modelo original, em que qualquer pessoa podia entrar e atualizar os verbetes, sem nenhum controle; agora, o site é dirigido por um grupo de editores, supostamente especialistas em assuntos variados, e com isso busca o apoio publicitário para se manter. E, se é verdade que hoje qualquer um pode ter seu blog (e, portanto, ser também provedor de conteúdo), Keen adverte que há grandes diferenças entre um blog e um site informativo – a começar do fato de que um site pressupõe a existência de equipes para atualizá-lo, preenchendo em grande parte o papel de jornais e revistas virtuais, mas com alto custo de manutenção.

Por fim, Keen acha que a mídia impressa não irá acabar por causa da internet. “A digitalização tira os custos, mas tira também o dinheiro para manter o serviço”, diz ele. “Há um sentimento de que o consumidor ganha por causa da conveniência, mas na verdade ele perde porque não haverá como cobrir os custos de fazer um produto com qualidade”.

Não poderia ser mais claro. Como já disse aqui, cuidado com o que você lê.

Para quem quiser saber mais sobre as idéias de Keen, esta entrevista – feita antes dele lançar o livro – é bastante esclarecedora.

2 thoughts on “A cauda curta

  1. Caríssimo Orlando,

    O livro é excelente. Li há alguns meses atrás e as análises e conclusões de Keen são intrigantes. O “modelo de negócio” da Internet proposto por muitos, grátis, liberária, sem controles, é assustador. Os blogs ditos especializados não me assustam, afinal a maioria tem baixíssima audiência, quando tem, mas as ameaças ao jornalismo verdadeiro, a indústria da música, do cinema e do software podem ser muito prejudiciais.

    Muitos exigem tudo de graça e abrem mão da qualidade do que estão recebendo. Ao mesmo tempo estão impedindo a viabilização de novas iniciativas, graças a falta de suporte financeiro viável para elas. O Jazz, o Blues e outros gêneros já sofrem com isso, sem falar em outros tipos de mídia e vertentes culturais que podem ser inviabilizados.

    Abração

    Julio

  2. Ameaçados por amadores? Em termos…

    É evidente que a internet permite uma enxurrada de informações exigindo uma inevitável filtragem. Não se chega longe com informações brutas de fontes que merecem ou não qualquer credibilidade. O fascinante da web e do hipertexto é a liberdade do ponto de vista social; tão importante quanto a liberdade do ponto de vista cultural. Ou seja, vale reforçar a liberdade da informação na sua riqueza e diversidade. É importante lembrar que na dinâmica da web podemos também rever a cada momento o rumo da atenção que dedicamos a uma ou a um grupo de informações. A liberdade na web nos permite colher frutos desta recente tecnologia sem saudosismos e sem nunca desmerecer os atributos positivos em navegar ou trafegar em território seguro na utilização de certos sites ou literaturas de fontes confiáveis.

    Os mecanismos de busca são apenas índices que podem (devem) ser utilizados como tal. Não creio que amadores ou falsos editores (os que intencionalmente escondem suas identidades para “plantar” bobagens) sejam tão temíveis para iniciantes ou iniciados. A liberdade certamente é tão boa quanto angustiante.

    Obrigado pela dica! (ontem perdi o link do Estadão)

    Abraço

    Sami

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *