Já comentei em outros posts (este aqui, por exemplo) sobre a questão da resolução de imagem, que ainda confunde muitos usuários. Nesta série de comentários sobre a escolha de um TV, não dá para deixar de voltar ao assunto, pois este é talvez o fator mais decisivo na decisão de compra. Antigamente, na era dos TVs de tubo CRT, era fácil se enganar: certos fabricantes divulgavam o número de linhas de resolução obedecendo a suas conveniências de marketing, e para checar a especificação só mesmo abrindo o TV ou utilizando instrumentos de medição. Hoje, só se engana quem estiver muito mal informado.

No mundo de plasmas e LCDs, só existem duas categorias de displays: os de alta definição – cuja resolução máxima é de 1080p – e os chamados HD-Ready (máximo: 720p). Os primeiros são também chamados “Full-HD”, em contraposição ao nome genérico “HDTV” que muitas empresas, e principalmente redes de varejo, adotam. Já cansei de ver anúncios de ofertas utilizando a expressão “TV digital HD”, quando na verdade referia-se a modelos HD-Ready. Basta comparar os números para concluir que há uma enorme diferença na resolução de um e de outro: de 720 para 1080, são 360 linhas a mais. Uso essa numerologia apenas para fixar na memória do leitor a idéia de que, para ter mesmo imagem de alta qualidade, não há alternativa: melhor comprar um Full-HD.

RGB_pixelsNa verdade, o cálculo é mais complexo. Deve-se multiplicar os números de resolução vertical e horizontal. Na categoria Full-HD, temos 1.920 pixels horizontais e 1080 linhas verticais. Portanto, para cada linha pode-se contar 1920 pixels – se você encostar uma boa lente de aumento na tela do TV poderá até enxergá-los (veja na foto). Multiplicando os dois números, chegamos à resolução total de 2.073.600 pixels, que é o que vale. No padrão standard, temos 720 linhas verticais e 1.280 pixels horizontais. Total: 921.600 pixels, ou seja, menos que o dobro. Conclusão: a resolução de imagem num TV Full-HD é 125% superior!

E a diferença de preço entre, digamos, um TV Full-HD e outro HD-Ready do mesmo tamanho está longe de 125%! Há quem diga que a diferença não é vísível a olho nu, porque dependendo da distância em que se olha a tela e também do tamanho desta, a diferença torna-se menos perceptível. Em TVs menores, realmente é mais difícil perceber. Mas a diferença existe.

Existe ainda a questão de como é formada a imagem em cada tipo de TV. Os LCDs HD-ready, por exemplo, posuem resolução de 1.366×768, enquanto os plasmas HD-Ready têm 1.024×768. Vejam que o número de pixels horizontais é diferente: nos plasmas, são utilizados pixels retangulares, enquanto nos LCDs os pixels são quadrados. A especificação “720p” faz parte do padrão HDTV em todo o mundo, mas na prática os TVs comportam um pouco mais do que isso.

Outro aspecto que deixa muita gente confusa é a questão do processamento da imagem: qual é a diferença entre 1080p e 1080i? Essas letrinhas junto ao número referem-se ao processo de leitura (ou varredura, como se diz no jargão técnico) do painel interno do TV. A letra “p” indica processamento progressivo (progressive scan), enquanto o “i” está relacionado ao processamento entrelaçado (interlaced). Este último foi usado desde a invenção da televisão, mas tecnicamente é inferior ao progressivo. Enquanto no primeiro cada linha que forma a imagem é lida individualmente, numa seqüência de linhas pares e ímpares, no processamento progressivo a leitura é feita por quadros, com os sensores internos do TV varrendo o painel de uma vez só.

Na prática, essa diferença de processamento não deveria produzir imagens tão distintas quando o número de pixels e linhas é o mesmo. Acontece que as imagens transmitidas pelas emissoras sofrem maior compressão, para ocupar menor parte da banda de freqüências disponível; em Blu-ray, com menor compressão, ganha-se muito em detalhamento da imagem. Além disso, já ficou provado que o processamento progressivo é mais eficiente na reprodução de imagens em movimento.

Espero ter tirado as dúvidas dos leitores sobre o item resolução. Nos próximos dias, continuaremos essa viagem por dentro dos TVs. Fiquem atentos.

12 thoughts on “Como comprar um TV (3)

  1. Prezado Orlando,
    Resolução é sem dúvida um assunto decisivo para a aquisição de aparelhos, pois diferentemente de contraste, brilho e cor, a resolução pode inviabilizar o uso de algum dos dispositivos que temos.

    Assim, vem minha dúvida:
    Com tantas fontes de imagem (TV SD, HDTV, DVD, Blue Ray, Wii, PS3 e etc) já é possível usufrir de todas estas fontes em uma TV Full HD sem distorção?

  2. Olá Ricardo, obrigado pelo contato. Já explicamo esse assunto aqui. Os TVs Full-HD fazem o chamado upconversion, quando o sinal tem resolução inferior, e o resultado geralmente é melhor do que num TV standard. A diferença está na qualidade do processador interno que executa essa função. Por isso, não se pode afirmar que todos os Full-HD são iguais. Na dúvida, melhor optar pelos modelos top de linha das principais marcas. Por favor, dê uma olhada nos tópicos anteriores sobre o item “resolução” (é só entrar no campo de busca). Abs. Orlando

  3. Orlando, creio que uma notícia bombástica no campo das plasma “top” é o fato de que, segundo indica o htforum, a panasonic está pisando feio na bola com o tão esperado plasma G11b Neopdp de 50 pol. Os poucos que conseguiram por as mãos nessa tv estão tendo que devolvê-la por conta de dead e stuck pixels, além de problemas grosseiros de montagem, como espumas saindo do painel (!). Ao que parece, se Panasonic decaiu desse jeito, e a Samsung continua duvidosa, o mercado brasileiro de plasma está sem opções realmente confiáveis.

  4. Orlando, boa tarde!
    Sempre estou aprendendo com os seus comentários e tenho sempre que agradeceçe-lo.
    Acrédito que a resolução de imagem é um dos fatores primordial na escolha de um tv full-HD.
    Hoje com as tecnologia cada vez mais divergindo-se, em um futuro próximo teremos que nos preocuparmos com imagem, som, comunicação e capacidade de amarzenamento dados.

  5. Caro amigo Orlando:

    Apenas para esclarecer que a resolução standard para TV digital é de 480p.

    A resolução de 720p já está na categoria HDTV.

    Um abraço

    João Carlos

  6. Meu amigo João Carlos, sempre atento, me faz lembrar que os TVs denominados “standard” trabalham com resoluções de 1.024x768p e de 1.366x768p, embora estas sejam chamadas genericamente 720p. No primeiro caso, o formato da tela é 4×3, o velho “tela cheia”; no segundo, é o formato widescreen (16×9) da maioria dos filmes atuais. De fato, 720p é considerado tecnicamente alta definição, uma dubiedade que ajuda a confundir mais as coisas. Seria como se tivéssemos uma definição alta e outra “super-alta”… Para que o consumidor não se confunda na hora da escolha, basta lembrar a diferença que expliquei relativa ao número total de pixels. Em tempo: todos os TVs Full-HD fazem upconversion para 1080p, mas nem todos os 720p têm esse recurso.

    Obrigado, João.

  7. Estou interessado em adquirir uma TV de plasma e há bastante tempo tenho pesquisado o mercado e lido o máximo possível a respeito, a fim de não jogar fora meu suado dinheirinho. Estava propenso a adquirir um plasma da linha Panasonic, mas, pelo que vejo do comentário do colega marlosem, o plasma da panasonic estaria apresentando diversos problemas relatados pelos compradores. Este não era propriamente o modelo que eu estava “de olho” (42 polegadas, Full-HD). Gostaria que o amigo esclarecesse se somente este estaria dando este tipo de problema, ou se toda a linha nova de plasmas viera estariam também apresentando defeitos. Ficaria grato se pudesse me alcançar maiores esclarecimentos a respeito. Abraço a todos os amigos.

  8. Olá Raul e demais leitores que perguntaram sobre o plasma Panasonic,

    Estamos aguardando um pronunciamento oficial da empresa, já que os problemas relatados realmente são anormais. Recentemente, nossa equipe testou esse aparelho e não constatou qualquer problema; aliás, foi um dos melhores TVs que avaliamos nos últimos tempos. Vejam um comentário em http://planetech.uol.com.br/?p=7343.

    Vamos continuar atentos ao problema e manter todo mundo informado a respeito.

    Abs,

    Orlando

  9. Caro Orlando.
    Eu já estava propenso a não renovar minha assinatura da revista HT e este seu artigo sobre resolução só me ajudou a decidir por isso. Fico indignado quando o editor de uma revista especializada escreve tantas coisas sem sentido, induzindo os leitores ao erro. Lanço aqui um desafio pessoal ao Sr. e a qualquer pessoa: coloquem lado a lado uma tv 42″, ou 50″, de resolução HD (720p) – ou resolução “standard”, como o sr. resolveu chamar – com outra Full HD reproduzindo o mesmo conteúdo de um Blu-ray e, sem saber qual é qual, identifique as duas. Nem o sr., nem ninguém, será capaz de dizer qual é a Full HD e qual é a HD porque, na prática, não se pode perceber a diferença. A não ser que se olhe a tela com uma lupa, realmente. Está mais do que comprovado por especialistas sérios que a resolução 1080p só traz vantagens perceptíveis em relação ao 720p em telas realmente grandes (acima de 50″). E quanto menor o tamanho da tela, menos perceptível ainda será a diferença. E telas com resolução a partir de 720 linhas SÃO HD SIM, e o sr. foi a primeira pessoa da imprensa especializada que vi rebaixá-la a “standard”. Não sei se há alguma indução de anunciantes quando leio a seguinte afirmção: “para ter mesmo imagem de alta qualidade, não há alternativa: só dá para comprar um Full-HD.”. Por favor, sr. Orlando, nos poupe disso. Outra bobagem é dizer que a resolução numa Full HD é 125% superior. Pode ser na frieza dos números, mas isso não se confirma “no olho”. Outra informação furada é sobre a resolução dos sinais de alta definição das transmissões de tv. No mundo inteiro essas transmissões são feitas em 1080i. Não há nem estimativa de quando, e se, ocorrerá a mudança para 1080p. Por tudo isso, suas opiniões e a revista cairam em total descrédito para mim. Abraço.

  10. Olá Ricardo, apesar da sua linguagem, vou responder com educação (não sei fazer de outra forma). Você tem razão quanto à denominação “standard”; meu amigo João Carlos Jansen já havia me alertado sobre o erro, que está sendo corrigido. Quanto às diferenças entre os TVs, os testes comparativos entre vários modelos são feitos habitualmente por nossa equipe, assim como com projetores dos dois tipos, e há diferenças significativas. De fato, a distância de visualização altera essa percepção, mas não se pode afirmar que não dá para perceber a diferença. Sim, em telas menores é menos perceptível, mas isso não quer dizer que sejam iguais. Fique tranqüilo: não há qualquer “indução de anunciantes” por aqui. Você deve estar nos confundindo com outras publicações. Sobre a resolução das transmissões, não sei em que parte do texto você leu que em outros países há transmissões em 1080p. Quanto a sua assinatura, também não há por que se preocupar: podemos cancelar a qualquer momento e devolver-lhe o dinheiro. É só pedir ao nosso depto. de circulação.

  11. Caro Orlando.
    Me desculpe se a linguagem que utilizei lhe pareceu ofensiva. Reli seu texto e você providenciou alterações importantes nele. Muito bom. Reconhecer um erro e corrigí-lo é louvável. Quando venho mostrar minha indignação num veículo como este, é só porque estou cansado de ver as pessoas serem mal orientadas sobre este assunto, seja por vendedores, fabricantes ou ainda pela imprensa especializada. No tocante a resolução das transmissões digitais de alta definição, só escrevi aquilo porque, na primeira versão do seu texto, havia a interpretação de que o Brasil teria optado pelo 1080i, quando na verdade esse é o padrão adotado no mundo todo. Por fim, apesar de discordar em muitos pontos com a revista, as edições que recebi me serviram de um modo ou de outro. Não preciso do reembolso dos valores. Apenas não vou renovar a assinatura. No intuito de ajudar na dúvida do colega Aurelio Melo, é importante observar que a resolução chamada EDTV (Enhanced Definition TV) apresenta relação de 852×480 pixels, não podendo ser considerada como de alta definição. Abraço.

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