A expressão é do próprio presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, em palestra a empresários em Brasilia, ontem. Segundo ele, o País corre o risco de uma pane nas linhas telefônicas, semelhante ao que houve recentemente na rede elétrica. Imagino que a essa altura Sardenberg já tenha levado um puxão de orelhas de dona Dilma, que se tinha calafrios só de ouvir a palavra “apagão”, sei lá o que deve ter sentido ao ler a notícia. Mas isso é o de menos. Fato é que Sardenberg está certo ao nomear uma comissão de técnicos para estudar a simples possibilidade do tal “caladão”, que se acontecesse seria uma bomba na cabeça de todos nós, usuários, e naturalmente também do governo.

“Há muita informação ou desinformação sobre a perspectiva de um apagão no setor. Seria um ´caladão´. Isso tem me preocupado muito e estou tomando as providências”, afirmou Sardenberg, referindo-se a notícias que têm saído regularmente na imprensa e que o levaram a investigar melhor o perigo. “Se você é uma autoridade pública, não pode simplesmente ignorar essas notícias”, acrescentou, mostrando que, no mínimo, é um funcionário responsável. É claro que, se dependesse apenas do Palácio do Planalto e dos ministérios, esse tipo de assunto jamais chegaria à mídia – é muito mais fácil esconder do que tomar as medidas necessárias. Mas não é preciso nem ser especialista em telecom para saber que o raciocínio do chefe da Anatel – ainda que baseado em notícias da imprensa – é correto.

Primeiro, as panes nos serviços de telefonia e internet têm sido constantes, a ponto de as operadoras continuarem campeãs de reclamações no Procon. Independente do que cada empresa faz individualmente para corrigir essas falhas, cabe à Anatel uma fiscalização mais rigorosa para prevenir novas panes (e punir quem tenha falhado). Segundo, no processo de evolução tecnológica é natural que cada vez mais pessoas e empresas utilizem as redes disponíveis. É o que se deseja, e é o que acontece em todos os países. Não é por outra razão que as operadoras praticam o odioso traffic-shaping, regulando a velocidade concedida aos assinantes para que o serviço não pare. Se o número de usuários aumenta e a rede não cresce com a mesma rapidez, é claro que em determinado momento vai parar.

E a demanda só tende a aumentar, devido à afluência das classes C, D e E, que também querem mais telefone, energia elétrica, internet, banda larga etc. Faz lembrar os nada saudosos tempos do Plano Cruzado, quando de repente milhões de brasileiros se iludiram com o dinheiro que tinham no bolso e saíram consumindo como loucos, produzindo aquelas cenas lamentáveis de invasões de supermercados, cujas gôndolas estavam vazias. É a tal da infraestrutura, da qual o País continua mais do que carente. Não vou nem entrar nos detalhes dos outros setores, mas falando apenas de telecom fica claro que não é através de PACs nem planos mirabolantes, muito menos criando novas estatais, que essa carência será resolvida.

A solução, a meu ver, passa por três coisas básicas: planejamento, marco regulatório definido e fiscalização rigorosa. Como o atual governo não é chegado a nenhuma das três, vamos ter que esperar talvez o próximo. E rezar para que não haja mais apagões, nem caladões.

3 thoughts on “Depois do apagão, o “caladão”

  1. No outro dia passando de carro na Avenida Rio Branco (principal via do centro dio Rio de Janeiro), vi passar ao meu lado um carro daqueles de savana, cheios de turistas dentro. Todos eles sorriam e olhavam curiosos para todos os lados, como se estivessem realmente em uma savana.
    Acho que, de fato, eles estão numa selva, que carece de qualquer serviço urbano decente. Não há um, um, um, um serviço descente nesse lugar! Nem telefone, nem energia, nem internet, nada!
    O sistema de transporte é horrível. O sistema de telecomunicações é “falido” para o cidadão. A mídia paga ou aberta é uma piada sem graça. A infraestrutura urbana inexiste, pois apesar de arrecadações monstruosas você não consegue andar 500 metros com seu carro sem trepidar em buracos e deformações de asfalto. A economia nos consome como se fôssemos bilionários. Até mesmo no lazer, sofremos com a incompetência do setor privado, como shoppings e suas praças de alimentação, estacionamentos e corredores caóticos. Gente podre que joga lixo nas ruas e em transportes.

    Nessa selva, os nativos são tão incompetentes e desinteressados que daqui a pouco ão conseguir fazer até o sol para de funcionar!

  2. Ao colega Renato, concordo com seu ponto de vista. Infelizmente ainda trazemos em nossa mestiçagem a indolencia e falta de respeito ao proximo. O governo apenas reflete o nosso caldeirão. Ficamos muitos anos na sombra da tecnologia. Nossos governantes ainda são como uma corte, que prefere ter o luxo no exterior e em seus pequenos palacios, sendo paparicados pelo povo iludido.

  3. Os sistemas telefonicos quer sejam de telefonia celular ou fixas que encaminham o trafego telefonico,os sistemas de transmissão de dados, tem recursos tecnologicos de fazerem os controles de todos os circuitos internos e externos que encaminham as chamadas, medindo o trafego telefonico / dasos em todas as direções. As empresas operadoras dos serviços telefonicos atraves de Reuniões de Interconexão para tratarem do trafego telefonico mutuo realizam o estudo da necessidade de ampliarem as suas interconexões. Estes estudos tem que serem transferidos para a rede de interconexão metalica ou de fibra otica entre as centrais,redes de transmissão telefonica estaduais e nacionais / internacionais, redes de sinalização por canal comum entre as centrais, etc. Para quem conhece como funciona uma planta telefonica em um pais e toda a sua abrangencia, somente uma situação de descontrole administrativo e tecnico das empresa operadoras poderia gerar o tal ” caladão ” . A situação é a mesma em todos os sistemas, quer seja eletrico, telefonico, de distribuição de gas , transportes coletivos aéreos, rodoviarios, metroviarios, etc . A falta de planejamento dos diferentes setores a curto, medio e longo prazo por pessoas experientes, associados às previsões financeiras para atender cada etapa antecipadamente e a implementação das ampliações, geram todo esses transtornos se não implementados, salvo situações completamente anormais. Cada empresa operadora tefonica tem a sua parte a cumprir em ambito nacional para evitar o tal caladão ……

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