Ainda sobre a fusão entre Pão de Açúcar e Casas Bahia, o que o mercado se pergunta é como ficará o varejo brasileiro tendo na liderança uma empresa que detém quase 70% do faturamento de todo o setor – e seis vezes mais do que a segunda colocada. Claro, os números são apenas estimados, com base no que faturam atualmente as duas, em separado. Mas, se isso não caracteriza monopólio, não sei mais que sentido dar a essa palavra.

Li e ouvi várias interpretações entre ontem e hoje, ainda sob o impacto da surpresa, mas noves fora as especulações – que são inevitáveis nesses momentos – dá para concluir que:

1) O que aconteceu não foi uma fusão entre duas empresas do mesmo porte, mas a incorporação de uma empresa em dificuldades por outra solidamente escorada num sócio estrangeiro cheio de apetite para investir no Brasil. Com uma dívida oficialmente calculada em R$ 950 milhões, a Bahia estava correndo o risco de levar para o buraco grande parte de seus fornecedores, se não tomasse alguma providência urgente. A queda dos juros e a maior oferta de crédito direto ao consumidor nos bancos (especialmente os estatais) ameaçavam transformar em pó a velha estratégia que fez a fortuna da família Klein: vender a longo prazo embutindo os juros nas prestações e “viciar” os clientes nessa armadilha. O rombo vinha aumentando, e a família sofreu um baque com a briga entre os irmãos Michael e Saul; este último deixou a sociedade em agosto, com cerca de R$ 1 bilhão nas mãos (em dinheiro vivo). Era urgente encontrar um sócio.

2) Abilio Diniz e seus sócios do grupo francês Casino temiam que a Bahia fosse comprada pelo Walmart ou pelo Carrefour. Embora os Klein neguem, houve mesmo conversas nesse sentido. Se isso acontecesse, seria praticamente impossível ao Pão de Açúcar retomar a liderança no setor. Com a compra recente da Ponto Frio, o grupo ainda estava organizando o meio de campo quando percebeu a ameaça. Como de hábito, agiu com rapidez, usando bem a força do capital francês (o Casino jamais admitiria perder a Bahia para o Carrefour, por exemplo).

3) A tentativa tardia de entrar na área de e-commerce foi uma espécie de “canto de cisne” da Casas Bahia, e Diniz percebeu isso muito bem. Com o comércio eletrônico crescendo numa velocidade muito mais alta do que as lojas físicas, a Bahia levaria tempo para se posicionar bem nesse campo. Já com a fusão, as coisas tornam-se mais fáceis: o Pão de Açúcar/Ponto Frio possui estrutura ultra-moderna em comércio eletrônico, e agora vai contar com a expertise da Bahia em logística e distribuição. Vai ser difícil competir com eles.

4) A conferir como ficam as parcerias financeiras da Bahia e do Pão de Açúcar, respectivamente com Bradesco e Itaú/Unibanco. Bahia e Bradesco têm contrato até 2010, com o banco garantindo até R$ 100 milhões em créditos aos clientes da rede, mas com a fusão dificilmente haverá espaço para os dois bancos – um deles terá que sair. Aceitam-se apostas.

5) É praticamente certo que haja novas fusões no varejo nos próximos meses, envolvendo redes regionais que, segundo analistas do setor, também enfrentam dificuldades. Os principais candidatos a comprá-las são Carrefour e Walmart. Ambos terão que agir rápido, se não quiserem perder espaço.

7 thoughts on “O futuro do varejo no Brasil

  1. Este tipo de empresa é que nivela nosso mercado por baixo. O objetivo deles é vender dinheiro e não produtos e assim os produtos são baratos para se transformarem em dinheiro caro. Com o monopolio todos saem perdendo, exceto a famiglia Diniz…

  2. Essa fusão inicia uma fase importante na indústria: os consumidores classe C comprando LCD de 40″ vao “elevar” o objeto de desejo das classes AB, A, por produtos com mais apelo de hardware + serviços verticais. As revendas de audio video como se conhecem hoje vao se deparar com uma crescente de serviços gratuitos de fabricantes e uma crescente escolha dos consumidores por produtos de magazines. Isso vai parar no status atual da BestBuy/Magnolia.

  3. Isto já são indícios de uma breve e gigantesca bolha do crédito que está por vir na economia brasileira. Se essa bolha estourar, será a maior crise financeira que o Brasil irá passar em toda a sua história.

  4. Parabens Orlando !

    Realmente algo estava estranho, com estes dados as coisas se acertam !
    Tanto se falou do poder das Casas Bahia, porem no fundo não tiveram solidez para enfrentar uma partilha interna e nem lastro com as margens de lucro minguando !

  5. O domínio acima de 25% do mercado se configurava fora da lei ( tive essa informação, pode estar desatualisada ). Dentro ou fora da lei podemos entender que não é saudável para o mercado pois sem competição e´facil de se formar um cartel ou quiça um monopólio, oque fazer? Se há falta de imaginação para os nossos políticos eles poderiam copiar o maior país capitalita do mundo e adotar/votar essas leis e quem sabe se o consumidor brasileiro não ficará mais feliz.

  6. Enfim, alguns ganham outros perdem, infelizmente é e sempre será assim.
    Com essa fusão acertada na calada da noite, torna-se um monopólio exato do que vai ser daqui pra frente se o governo e os fabricantes não tomarem um providência isso vai virar um verdadeiro cartel.
    Perdemos nós pequenas revendas e prestadores de serviços ESPECIALIZADOS (ao contrário dos magazines q não são e mal sabem o q vendem) e perde o consumidor, q ficará na mão do monopólio de valores e condições de pagamento do Abílio e entre outras e futuras aquisições q ele ou outra empresa poderá vir fazer.
    Não há competitividade saudável nesse mercado, é o q sempre falei o mercado é INGRATO e se vc for considerar q uma boa parte dos clientes são ignorantes ou metidos a espertos ou mão de vaca… aï sim piorou para nós pequenas revendas e prestadores de serviços.Daqui a pouco tem alguém do ramo de varejo ou até mesmo o próprio abilio querendo comprar algum fabricante de eletroeletrônico,ou eletrodoméstico, aí meu caro… todos vão se dar MUITO MAS MUITO MAL MESMO.

  7. É sempre assim, todas as vezes que o Governo tenta melhorar alguma coisa em prol da massa trabalhadora, atenuando a carga tributária e consequentemente diminuindo os juros, meia dúzia de Empresários fundem seus capitais. Uns para se fortalecerem perante outros,mais existem aqueles que não querem dividir a galinha dos ovos ouro ( os consumidores).

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