Conversando com os colegas jornalistas que vieram a Barcelona, convidados pela Philips, e também com alguns espanhóis, notamos todos como a cidade – que tem mais de 2 mil anos de existência – parece moderna e avançada. O hotel onde estamos hospedados encaixa-se na categoria dos chamados “edifícios inteligentes”, com elevadores programados para atender aos chamados pela ordem, economizando assim energia. Claro, este é um detalhe secundário. Mas Barcelona, que tem uma vasta área sendo restaurada, possui um metrô considerado dos mais eficientes do mundo, embora tenha sido construído há menos de trinta anos, e – segundo me contaram – alguns dos projetos urbanísticos mais avançados da Europa.

Essa modernização aconteceu, em grande parte, em função da Olimpíada de 1992, quando a cidade literalmente se transformou para receber milhares de turistas. De lá para cá, Barcelona tornou-se polo de atração para eventos (com um enorme centro de exposições) e uma das capitais culturais do mundo, com museus, teatros, salas de concerto e galerias de arte de fazer inveja a Paris, Londres ou Nova York. Entre os brasileiros que aqui estão, comentávamos em tom de brincadeira: Barcelona é, hoje, como será o Rio de Janeiro daqui a seis ou sete anos… Quem fez a piada percebeu que, depois dos risos iniciais, surgiu no ar um misto de raiva e frustração. É triste, mas todos sabemos que não será assim.

Relendo o artigo de Ethevaldo Siqueira sobre o papel das universidades brasileiras no avanço tecnológico, juntei as duas coisas. Por que uma única cidade (no caso é Barcelona, mas poderia citar também Las Vegas, Berlim ou várias outras) recebe anualmente mais turistas do que o Brasil inteiro? E por que países sem grande expressão na economia mundial (como Noruega, Taiwan ou Austrália) conseguem formar todos os anos uma quantidade muito maior de grandes cientistas, com prêmios e artigos publicados pelo mundo afora, do que o Brasil com todo o seu potencial? O artigo de Ethevaldo ajuda a encontrar algumas respostas. Nossas universidades são fechadas e morrem de medo de inovações como o código aberto (open source), que é uma das bases do avanço tecnológico atual. E, quando questionadas, apelam para o velho corporativismo que manda premiar todo mundo por igual, independente de seu mérito individual. Falo, é claro, das universidades públicas – das particulares, nem dá para falar quando se pensa em educação e cultura.

Sugiro a todos uma boa reflexão a respeito, de preferência sem misturar esse assunto com política, como alguns insistem em fazer. No fundo, essa discussão tem a ver com a pergunta: qual é o futuro que desejamos para o País? Você aí, sabe a sua resposta?

2 thoughts on “O que queremos para o Brasil

  1. Espero que possamos sediar os jogos olímpicos sem passarmos por vexames e principalmente que esta seja uma oportunidade de melhorarmos nossa infra-estrutura em transportes, rede hoteleira, saneamento, etc.
    Porém não quero para isso que o Brasil sofra um endividamento igual ao que a Espanha está passando, a exemplo de outros países da Europa.
    Hoje vemos o mundo financeiro temendo um calote dos chamados “PIGS” (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha),pois ainda não se recuperaram completamente da crise. Assim, não tenhamos tanta inveja da Espanha, apesar de ser um país mais socialmente mais justo com seu povo!

  2. Caro Orlando,

    Sobre as Olimpiadas, nem precisa comentar. Sabemos o que vai acontecer: falta de planejamento, projetos equivocados e muita, muita gastança de dinheiro público.

    Não sei se comentei contigo, mas trabalhei muitos anos nas duas maiores universidades do Rio, a UERJ e a UFRJ. Não, não estava por lá para estudar, tivemos restaurantes nestas faculdades e lá fiz bons amigos e pude conhecer um pouco do que era (e não era) feito por lá. Para quem estava de fora, como eu, a impressão não poderia ser pior. Instalações totalmente sucateadas, infiltrações, salas inabitáveis, péssima conservação. Faltava até papel higiênico nos banheiros. Isso, por si só, mostra o grau de preocupação e interesse dos administradores com nossos estudantes, professores e pesquisadores.

    Mas nestas instituições o que mais chamava atenção era a atuação dos sindicatos, movimentos sociais, ONGs e diretórios, enraizados nos diversos níveis administrativos e acadêmicos. Era bastante clara a divisão que existia entre os alunos e funcionários: uns, ligados a estes movimentos, eram estudantes profissionais. Servidores da universidade dedicavam todo o seu tempo para a política, engessando setores inteiros das instituições. Os prejudicados? Estudantes sérios, aqueles que trabalhavam e estudavam, os que pensavam realmente no futuro. Vi pesquisadores chorarem, após perder anos de trabalho por falta de energia elétrica. Outros vinham se despedir pois eram contratados por grandes empresas estrangeiras, onde teriam carta branca e recursos para desenvolver seus experimentos.

    Os diretórios acadêmicos perseguiam com seriedade seus nobres objetivos: festas de início, meio e fim de ano, choppadas, campeonatos de futebol e, para isso, pediam a contribuição dos comerciantes, dos calouros (durante os trotes, que duravam dias) e com a venda de ingressos e muita, muita cerveja. Seus líderes, estudantes profissionais com dez, quinze anos de faculdade (incompleta), andavam com indefectíveis bolsas hippie e camisetas do Che, mas se esquivavam das discussões a respeito de aperfeiçoamentos das grades curriculares e condições mínimas de funcionamento.

    Bom não esquecer das greves. Acabamos abandonando esses locais pois os períodos de greve, muitas vezes chegavam a três, quatro meses no ano. No fim, corria-se para cumprir o calendário acadêmico a tempo de curtir o Carnaval, claro.

    Apesar das gritantes falhas no ensino básico e médio, temos muita gente capaz neste país. Se UERJ e UFRJ, duas das maiores universidades públicas do Brasil, imagine o resto. Não vou desmerecer o belíssimo trabalho que é feito por muitos na USP e Unicamp e outras instituições, claro, mas é pouco. Só seremos realmente respeitados neste mundo quando trocarmos a esmola por muita, muita educação.

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