Norberto Mensorio, presidente da ABRASA (Associação Brasileira das Empresas de Assistência Técnica de Eletrônicos), me manda link para reportagem do Estadão que mostra o congestionamento de aparelhos para conserto nas oficinas. Seria conseqüência indireta do aumento nas vendas de TVs e outros aparelhos: o usuário orça o conserto de um aparelho usado e descobre que o custo chega a 60% ou 80% do valor de um modelo novo; então, abandona o velho na oficina e nunca mais aparece. É uma forma de se livrar do chamado “lixo eletrônico”.

Mensorio, que não conheço, é dono de uma oficina na zona leste de São Paulo. Queixa-se da rápida obsolescência dos aparelhos atuais, e das dificuldades para reciclagem. Sua entidade estima que existam cerca de 2 milhões de aparelhos parados nas oficinas de todo o País, entre TVs, monitores de computador etc. Haveria, inclusive, displays de plasma, LCD e até os novíssimos LED-LCDs, cujo conserto é caríssimo. Segundo Mensorio, um complicador – que eu desconhecia – é que, enquanto os aparelhos produzidos em Manaus têm isenções tributárias, as peças de reposição não têm. “O aparelho desmontado custa de quatro a oito vezes o valor do produto montado”, disse ele ao jornal.

Resultado: o custo do conserto torna-se inviável. Vamos apurar melhor essa história. O jornal foi ouvir Helio Mattar, do Instituto Akatu, conhecido por suas ações em defesa do meio ambiente, e ele acusa a indústria de incentivar a troca indiscriminada dos aparelhos. Uma perigosa generalização: com certeza existem produtos descartáveis no mercado, mas estes nem de longe são maioria. Ou são?

11 thoughts on “Oficinas congestionadas

  1. Orlando;
    Há tempos tenho batido nesta tecla, a da absurdamente rápida obsolescência dos eletrônicos. Parece que atualmente tudo é feito para durar pouco, pois a indústria já conta com a idéia de que o consumidor não ficará muito tempo com o mesmo produto.
    É realmente desanimador constatar que aquele produto de “ultra, mega, hiper” última geração, que acabou de ser lançado, ficará obsoleto antes mesmo de conseguirmos liquidar as parcelas mensalmente debitadas no cartão de crédito. Houve tempos em que projetávamos o avanço tecnológico e obsolescência dos produtos para décadas a frente. Depois começamos a pensar em questão de 3 a 5 anos. Atualmente, a coisa não chega sequer a 12 meses.
    Fora a questão do bolso do consumidor, tudo isso gera ainda um grande problema ambiental, não apenas pela questão do descarte indiscriminado dos produtos, mas pela constante exploração dos recursos naturais. Plástico é derivado de petróleo, alumínio implica em exploração de bauxita, silício (usado nos semicondutores) também implica em escavações, etc..
    A coisa perdeu o freio, extrapolou as raias do bom senso, e a indústria está passando impune. Está na hora de se exigir dela maior responsabilidade neste processo todo, começando pela criação de programas de retorno de equipamentos obsoletos, onde o próprio fabricante seria responsável pela reciclagem e/ou descarte dos materiais e componentes de acordo com a legislação ambiental.
    E pelo amor de DEUS, que eles consigam criar alguma coisa que permanece atual por pelos menos 24 meses!
    Eis um desabafo de alguém que come e respira tecnologia 24hs por dia. Mas tudo deve conhecer limites.
    Grande e forte abraço

  2. Caro Vinicius, só não vamos confundir “fica obsoleto” com “dar defeito”. Isso, sim é que é grave. Abs. orlando

  3. Orlando;
    Os produtos atuais são feitos para durarem pouco, no máximo 2 ou 3 anos, e não mais 10 ou 20 como acontecia antigamente. Os fabricantes já partem da idéia que o consumidor vai mesmo trocar de tv, player, receiver, celular, câmera digital, etc., dentro de 2 ou 3 anos no máximo por conta do avanço tecnológico, então por que fazer algo que dure muito mais que isso?
    Faça uma busca no HTForum ou no site “Reclame Aqui” e veja o número de consumidores que estão com processos pendentes no Procon contra fabricantes de eletroeletrônicos. Inclusive há inúmeros casos de aparelhos – principalmente televisores – que apresentaram defeito 1 ou 2 meses após o término da garantia, e invariavelmente o custo do conserto é proibitivo (compensa mais comprar um tv novo) ou a assistência técnica simplesmente não tem as devidas peças sobressalentes. Isso se chama “obsolescência programada”.

    Os primeiros televisores de plasma que chegaram por aqui funcionam perfeitamente até hoje! Em compensação, os modelos mais recentes, por mais sofisticados que sejam entulham as prateleiras das oficinas autorizadas, fora os inúmeros relatos de queda de desempenho após 12 ou 18 meses de uso. E o mesmo vale para televisores LCD, consoles de vídeo games (o PS3 é uma das máquinas mais frágeis da história, conheço quem já esteja no 3º console), celulares (experimente enviar um para a assistência técnica autorizada), etc.
    Nada tenho contra a evolução tecnológica (muito pelo contrário), tampouco contra a indústria faturar. Afinal, a roda tem que girar, e o dinheiro, também. É isso que move a economia. Mas é necessário buscar um ponto de equilíbrio.

  4. Na verdade acredito que este congestionamento se deve ao baixo padrão de qualidade dos aparelhos. Os consumidores ávidos por baixos preços, acabam gastando duas ou três vezes na compra de um produto, só porque ao primeiro impacto ele custa menos e ao comprarem preço, levam baixo valor. Vendo aparelhos de alto padrão de qualidade e raramente eles vão parar na assistência técnica. Obvio que custam mais caro! Marcas como LG, Sony e Samsung são as primeiros na mente dos consumidores menos informados, mas em compensação são as primeiras na porta da assitência técnica!

  5. Acredito haver 2 culpados nessa história:
    a) a induústria que fabrica equipamentos com obsolescência programada e, em vários casos, de má qualidade;
    b) o preço absurdo cobrado pelas autorizadas para o conserto de equipamentos.

    Meu exemplo próprio: um LCD de 42″ Samsung, coimprado há 21 meses por R$ 5.900,00, teve sua placa-mãe queimada e o orçamento me mostrado cobrava R$ 1.800,00 de mão de obra. Acionei a Sansung alegando defeito oculto pois, segundo o próprio manual “o aparelho é projetado para durar mais de 80.000 horas”.
    Não hyavenhdo acordo, procurei a justiçã através do Juizado Especial Cível para receber a quantia originalmente paga de volta e, sou mais um, deixei o aparelho “de presente” para a oficina.

  6. Celso,

    No caso do defeito ter ocorrido 21 meses depois da compra (e fora da garantia), fica difícil a configuração de vício redibitório (“defeito oculto”), passível de ressarcimento, nos termos do CDC e do Código Civil, ok?

    Seja como for, se MUITOS dos prejudicados por essa “obsolescência programada” a que se refere o Vinícius (ela, sim, contrária ao espírito da lei) recorressem ao Judiciário, talvez a indústria repensasse essa prática abusiva. Uma outra via possível seria a intervenção decidida do Ministério Público, como, v. g., mediante o ajuizamento de múltiplas ações civis públicas.

    Um forte abraço.

  7. Vinicius, sempre sensato em seus comentários, conheço um camarada que trabalha na Sony, fazem coqueteis para apresentar lançamentos para 1,2,3 e 4 anos seguintes, realmente a tecnologia avança a passos largos, seu eletrônico de hj em seis meses já estará fora de linha, sem contar que como tudo é feito com chips e eles tem memória, nessa memória provavelmente já esta definida a vida útil daquele produto, tudo agora é 3D, tvs, Bds cada um com sua tecnologia, um óculos pra assistir uma determinada marca, custa o equivalente a 2 aparelhos de DVD atuais, se sua familia é composta por 3 pessoas =R$ 900,00, sem contar o incomodo de ter que assistir tv com oculos, estou querendo trocar o receiver para um versão 1.4 pra não ficar parado no tempo e em menos de 1 ano vem a versão 1.4a, é a isso que se refere o Vinicius, grande abraço.

  8. Evandro:

    Na inicial do processo, cuja audiência de conciliação será no próximo dias 23/8, anexei 72 reproduções de pesquisas pela internet de casos de consumidores com o mesmo defeito para o mesmo modelo do aparelho que tenho. Muitas delas me foram fornecidas pela revista Proteste; serei eu um caso isolado?
    Acredito que não.

  9. Tenho algumas considerações

    Primeira: se os produtos durassem 20, 30 anos não haveria emprego para tanta gente.
    Segundo: o governo precisa arrecadar impostos (ah, ah)

    O que precisamos urgente é de uma lei que obrigue o consumidor a retirar o equipamento das oficinas, para dar um destino correto, e educação, em todos os sentidos. Para evitar o consumismo, para evitar brigas judiciais, pois se todos tivessem a consciência de que a oficina não é deposito de lixo, não precisaria de leis.

  10. “Mea culpa”, faltou que eu desse um retorno para o meu caso.
    Na audiência de conciliação os representantes da Samsung vieram com aquele papo que “a garantia do produto é de um ano, etc.”, obviamente não houve acordo e fomos para julgamento.
    Na sentença o juíz condenou o fabricante a me devolver a quantia paga pelo produto com correção monetária, ou a troca por um modelo equivalente novo, à minha escolha, mais R$ 1.000,00 por danos morais uma vez que comprovei haver quase uma centena de caso similares ao meu, “evidenciando obsolecência programada ou vício oculto”.
    Escolhi a primeira opção, recebi a quanti me devida e comprei de outro fabricante.

  11. E verdade,pois eu tenho uma oficina de tv que mais parece um deposito de ferro velho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *