A lista de 100 cidades a ser atendidas inicialmente pela Telebrás com redes de banda larga não passa de ficção. Foi tirada da cartola por um grupo de burocratas que nunca administraram uma empresa e, portanto, não fazem a menor ideia de como manter um negócio – qualquer negócio – saudável. É fácil, quando se tem o controle de uma máquina de fazer dinheiro como é o governo atual. Aguarda-se para qualquer dias desses a revelação dos esquemas políticos que envolveram a elaboração de uma lista como essa, sabendo-se que no governo Lula banda larga virou sinônimo de compra de votos (como já acontece com as concessões de rádio e televisão).

Primeiro, uma pergunta que chega a ser ridícula de tão óbvia: por que divulgar uma lista de 100 cidades? Poderiam ser 200, ou 1.000, qual seria a diferença? Se a ideia é levar banda larga a todos os municípios, não faz o menor sentido priorizar parte deles. A menos que houvesse um critério técnico. A explicação oficial é que os escolhidos estão a menos de 50km da rede de fibra óptica mantida pela Eletrobrás, que servirá de base à implantação do PNBL. Além disso, seriam localidades com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), indicador da ONU para medir a pobreza das cidades em todo o mundo. Pois bem. O que há de comum, nesse sentido, entre Campinas (SP) e Ibirité (MG) ou Piracuruca (PI)?

Outro critério seria o de que as tais 100 cidades não são atendidas adequadamente pelas operadoras privadas – algumas sequer possuem serviço de banda larga. Se é assim, como incluir na mesma lista São Paulo (sim, a maior cidade da América Latina) e Lagoa D’Anta (RN)? Rio de Janeiro (RJ) e Muritiba (BA)? As prioridades seriam as regiões Nordeste e Sudeste (por que?), mas foram incluídos municípios de Goiás e Tocantins. Cidades paupérrimas de Mato Grosso ou do Paraná estão fora, mas Brasilia está dentro.

As operadoras já começaram a reagir (leia aqui), argumentando que, das tais 100 cidades, 97 já possuem atendimento de banda larga. É uma meia-verdade: depende do que se considera “atendimento”. Conexões lentas, instáveis e caras são hoje a regra pelo país afora. Mas receio que possa se tornar ainda pior. Quem mora num dos municípios escolhidos não deve ficar muito animado. Estamos todos carecas de saber que o governo (não só o atual, mas todos os governos) é um péssimo administrador. Não é baixando decretos e criando falsas listas que se vai resolver o problema. Seria muito mais fácil – e custaria menos – fortalecer a Anatel com técnicos competentes e bem remunerados, para fiscalizar as operadoras e puni-las quando não cumprem bem o seu papel.

Mas isso é utopia. Vale a pena lembrar a velha frase: “O poder corrompe, mas o poder absoluto corrompe totalmente”.

3 thoughts on “As 100 cidades fantasmas

  1. você acorda pela manhã com uma vontade de reclamar não é?
    concordo que a justificativa usada pelo governo entra em contradição pelo fato de incluírem cidades grandes que sabidamente tem internet banda larga fixa e celular e por vezes possuem até mais de uma operadora, mas parte significativa dessas cidades realmente carecem de banda larga.
    uma pena que a candidata do governo está na frente nas pesquisas, mas mesmo assim não votarei nele, não quero jogar meu voto no lixo.

  2. Caríssimo Orlando,

    Campinas realmente me chamou a atenção… Tudo leva a crer que a lista foi criada pelas pessoas competentíssimas que tocam o governo federal… E, em Campinas, tenho a impressão que os assinantes podem contar com o benefício criado pelo então governador José Serra para popularizar a banda larga, não? Abrir mão dos impostos foi suficiente para turbinar os negócios e deixar a ineficiente máquina estatal longe da prestação deste serviço.

  3. Veja isso:

    http://www4.planalto.gov.br/brasilconectado/noticias/proposta-de-100-cidades/

    Somente citando as paginas 2 e 3 do PDF:

    Critérios
    • Utilização dos Anéis Sudeste e Nordeste
    • Proximidade de até 50Km com os POPs
    • Cronograma de implantação do backbone
    • Municípios com Programas de Inclusão Digital
    • UCA, Cidade Digital, RNP, Telecentro e UAB
    • Municípios com menor densidade de banda larga
    • Acessos Banda Larga(ANATEL) / População (IBGE)
    • Municípios com menor IDH (PNUD)
    • Projeto de interesse social
    • Distribuição por Estado
    • Diversidade de regiões geomorfológica
    • Áreas urbanas pobres e densamente povoada <—- São Paulo se enquadraria sim. Por acaso a maioria dos habitantes em SP são ricos?
    • Áreas rurais e regiões remotas

    Nenhum dos critérios define que só podem ser inclusas no plano cidades que não possuem nenhum tipo de acesso banda larga.

    Gostaria muito que vc aprovasse meu comentário.

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