Mestre Silvio Meira, um dos homens que mais entendem de tecnologia no Brasil, fez em seu blog esta semana um análise detalhada do estágio em que anda (ou não anda) a banda larga brasileira. Vale a pena ler. Baseado em informações oficiais, inclusive declarações recentes de pessoas do governo, ele chega à conclusão de que quem quiser banda larga mesmo, com velocidade razoável, é melhor esperar sentado. A quantidade de problemas a resolver é tão grande que, embora se diga otimista, Meira quase entrega os pontos. Vejam só:

*O país vive um quadro de alto consumo, e é natural que as pessoas queiram comprar computador e fazer assinatura de planos de banda larga – que as operadoras vendem, é claro, mas sem condições de poder entregar;

*Como já comentamos aqui, o que se vende no Brasil como “banda larga” é, na verdade, uma conexão de 512Kbps, o que, pelos padrões internacionais, está longe do mínimo aceitável (na Europa, Ásia e América do Norte, considera-se banda larga a partir de 2Mbps);

*Mesmo investindo alto, o governo brasileiro não consegue implantar nem mesmo os tais 512Kbps nas 1.163 cidades identificadas pela Telebrás como prioritárias. Não há rede para isso, e construir redes é coisa para especialistas, que a estatal não tem.

*A Telebrás diz que já comprou os equipamentos necessários, mas onde eles serão instalados? E como? O caminho mais rápido seria usar as redes das empresas de energia elétrica, mas isso depende de negociações com cada uma delas, o que é necessariamente demorado.

*Implantadas as redes, a Telebrás teria que vender os megabits no atacado às operadoras. As grandes não têm interesse em chegar nas mais de 1.100 cidades; ao contrário, querem apenas reforçar suas posições nos 250 ou 300 municípios que oferecem alta rentabilidade. As pequenas operadoras têm interesse, mas não têm dinheiro para comprar os megabits. Quem (e como) vai financiá-las?

*Ainda que BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica e demais órgãos públicos entrem com o dinheiro, vai ser um desafio instalar, coordenar e fiscalizar tudo isso – e, como se sabe, a Telebrás também não tem tal estrutura.

*Por fim, e talvez mais importante do que tudo, o governo está entrando numa nova fase de arrocho financeiro, com cortes orçamentários que com certeza atingirão a área de telecom. É uma das heranças que Lula deixou para sua sucessora.

É triste, mas ainda vamos ter que esperar muito…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *