Por falar em gente séria, mais um dos que se enquadravam nessa restrita categoria se foi nesta terça-feira: Renato Guerreiro, primeiro presidente da Anatel e um dos homens que mais conheciam tecnologia (particularmente telecom) no Brasil. Como tanta gente boa, Guerreiro foi levado por um cancer aos 62 anos, e em plena atividade. Tive o prazer de entrevistá-lo algumas vezes quando estava no governo e testemunhei depois seu desencanto com a forma como o setor vem sendo tratado nos últimos anos. Para sintetizar sua importância, basta lembrar três fatos:

*Foi ele o autor do primeiro estudo abrangente sobre o sistema de telecomunicações brasileiro, ainda em 1994, intitulado “Uma Infraestrutura para a Sociedade da Informação”, que serviu de base à reestruturação do setor, via privatização, a partir de 1995 (ali, já previa a expansão da internet e a convergência entre as tecnologias).

*Foi ele também uma das vítimas do primeiro governo Lula: demitido sumariamente da presidência da Anatel em abril de 2003, pelo ex-ministro Miro Teixeira, que nada entendia do assunto. Motivo: era homem de confiança do ex-presidente FHC.

*E, por último, mas talvez o mais importante: com todas as acusações feitas à privatização, nunca precisou responder a nenhum processo, andava pela rua sem seguranças e teve que ganhar a vida como consultor nos últimos anos. Morreu modestamente – ao contrário de diversos mensaleiros e companheiros.

Se este fosse um país sério, um homem como Renato Guerreiro não teria sido desperdiçado.

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