Comentei aqui outro dia sobre o presidente do BNDES, que parece querer uma nova reserva de mercado, e agora leio com certa satisfação a entrevista do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para os jornalistas Ethevaldo Siqueira e Renato Andrade, do Estadão. Raras vezes se vê um funcionário de governo falando com tanta desenvoltura e sensatez, sem demagogia barata. No caso das comunicações, o que mais se ouviu nos últimos anos foram críticas à privatização, certo? Pois bem, agora Bernardo defende abertamente esse tipo de política: “Tinha gente até dentro do governo (referindo-se ao governo Lula) que achava que o governo deveria botar alguns bilhões e fazer a infraestrutura do Plano Nacional de Banda Larga. Não vamos fazer isso. Aliás, nós privatizamos o serviço. Então, não dá para cobrar que o governo faça essa infraestrutura”.

Mais claro, impossível. Bernardo, evidentemente, não pode dar nome aos bois. Mas refere-se aos assessores do ex-presidente Lula (Rogerio Santanna, Cezar Alvarez e André Barbosa, entre outros) que viviam cantando na mídia a “reestatização” do setor de comunicações, que segundo eles havia sido devastado no governo FHC; a própria Dilma Roussef chegou a afirmar isso num dos debates eleitorais, certamente desinformada por seus marqueteiros. Balela! A privatização foi a melhor coisa que aconteceu ao país no campo da tecnologia, conforme admite agora o ministro. O que faltava – e continua faltando – é fiscalização, para fazer com que as empresas privadas cumpram as metas, entre elas a de reduzir os preços. Na entrevista, Bernardo concorda que isso cabe à Anatel e que esta precisa ser valorizada.

Outro ponto brilhante da fala do ministro refere-se às concessões de rádio e TV para políticos. Sem demagogia, ele reconhece os erros cometidos até hoje e promete rever o modelo, defendendo inclusive que essa prática nefasta seja proibida; emissoras em nome de laranjas, diz, é caso de cadeia. Mas adverte que é uma briga difícil, pelos interesses que envolve.

Sobre nomeações políticas para cargos na Anatel, Bernardo lembra, com razão, que essa prática começou quando a Agência foi criada, no governo FHC, quando a área de comunicações foi destinada ao PSDB, a energia ao PFL e assim por diante. Nada diferente, portanto, do que fez Lula. Outra crítica perfeita. O único reparo é que, nos primeiros anos, por iniciativa do falecido ministro Sergio Motta, foram recrutados para alguns postos-chave técnicos de respeito; quando Lula assumiu esses foram afastados, simplesmente porque haviam sido nomeados pelo governo anterior. E ficaram só os apadrinhados políticos.

Bem, tomara que Bernardo esteja sendo sincero e tenha mesmo poderes para levar adiante suas ideias. Está faltando gente séria no governo (e no país).

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