Vendo e revendo as impressionantes imagens de destruição no Japão, um dos sentimentos que me vieram foi: “E se fosse aqui?” Claro, o Brasil (felizmente) não está localizado numa região sujeita a terremotos daquela magnitude. Mas a forma como os japoneses se organizam e se preparam para essas eventualidades é admirável. Se lá um fenômeno como esse (terremoto + tsunami) causa alguns milhares de vítimas fatais, o que aconteceria num país como o nosso, onde uma chuva de meia hora às vezes provoca o caos? Segundo um especialista que ouvi pelo rádio neste fim de semana, o terremoto de janeiro de 2010 no Haiti, por exemplo, foi dez vezes mais fraco do que este no Japão; e, no entanto, matou mais de 500 mil haitianos. O mesmo ocorre em países como Chile, Peru, Nicarágua, Turquia e outros também sujeitos a fortes tremores de terra. Quantos brasileiros já morreram nas seguidas enchentes dos últimos anos? E pior: o que fizeram nossos governantes para evitá-las?

Nas duas vezes em que estive no Japão, pude ver de perto alguns detalhes do esquema de prevenção contra terremotos e tufões, incluindo o uso da mais moderna tecnologia de construção civil. Até o momento em que escrevo, há mistério sobre o que de fato aconteceu na usina nuclear de Fukushima, atingida violentamente na sexta-feira. Mas pode-se ter certeza de que, não fosse a disciplina e alta capacidade de planejamento do povo e das autoridades japonesas, muitos dos prédios que vimos balançar naquele dia estariam hoje reduzidos a escombros.

Pode ser um pequeno detalhe, mas é simbólico: três dias depois da tragédia japonesa, entre as centenas de fotos e vídeos que vimos na televisão e na internet, não apareceu uma cena sequer de violência ou de saques, como é comum do lado de cá. Não tenho dúvidas de que os japoneses darão ao mundo mais uma lição de coragem, organização e solidariedade, para reconstruir o que a natureza destruiu. Já fizeram isso algumas vezes nos últimos séculos (é, de longe, o país mais vitimado por terremotos – sem falar nas guerras e na humilhação suprema de ser o único país, até hoje, atingido por duas bombas atômicas).

Entre as muitas imagens que me chamaram atenção nos últimos dias, destaco as deste link, que mostra tomadas aéreas feitas antes e depois do terremoto. Tomara que nunca tenhamos que fazer esse tipo de foto no Brasil.

5 thoughts on “Sofrimento de Primeiro Mundo

  1. Olá,Orlando.Você tem alguma informação se essa catástrofe afetou a fábrica de painéis de plasma da Panasonic?Abraço:Rubens.

  2. Realmente, é impressionante. A cultura japonesa (e, de resto, oriental) é radicalmente diversa da latina. Chamou-me a atenção duas fotos que retratam bem isso: numa, logo após o início do “caos” (tremores), havia uma gigantesca fila de japoneses em uma grande cidade (se não me engano, Tokio), aguardando um suposto taxi – que nem poderia vir a aparecer – diante da paralização dos meios de transportes públicos urbanos. O mundo caindo e todos paradinhos numa fila quilométrica. Impressionante! Noutra, o fotógrafo flagra um imenso contingente de pessoas em frente a catraca eletrônica – pifada, é claro – do metrô de Tokio, todas aborrecidas, mas resignadas, esperando tolerantemente alguma resolução para o problema. É impressionante a capacidade de auto-controle, disciplina e alto nível educacional desse povo. Certamente, irão reconstruir o país num piscar de olhos, embora os traumas da tragédia fiquem gravados no DNA de um povo já tão marcado por outras de igual magnitude. Abraço.

  3. “Quantos brasileiros já morreram nas seguidas enchentes dos últimos anos? E pior: o que fizeram nossos governantes para evitá-las?”

    Essa é a pergunta que não quer calar.

    Os japoneses logo logo já irão pensar em maneiras de minimizar os impactos de um tsunami, pois eles estão sempre aprendendo e procurando evoluir.

    Aqui entra ano, sai ano, e as enchentes continuam vitimando várias pessoas.

    Esse Brasil não aprende.

  4. Olá Rubens. Felizmente, não. A fábrica da Panasonic fica do outro lado do país, assim como a maioria dos fabricantes de eletrônicos. Abs. Orlando

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