Após as notícias de ontem sobre a fabricação do iPad no Brasil, fiz uma busca entre os principais sites asiáticos para entender melhor essa anunciada decisão da Foxconn, empresa de Taiwan que faz a montagem do aparelho para a Apple. Não encontrei nada de concreto, a não ser a repercussão – muitas vezes, pura replicação – das declarações de Dilma Roussef e Aloisio Mercadante a respeito. Até este momento, nenhuma palavra da própria Foxconn, muito menos da Apple.

É curioso como as notícias se espalham nestes tempos de informação em tempo real. A mídia em geral simplesmente replica o que alguém falou, como se fosse a verdade verdadeira. A primeira notícia a respeito – que comentei aqui – saiu no final de março, quando um secretário da prefeitura de Jundiaí (SP) disse a repórteres ter “ouvido falar” que a Apple estaria estudando investir numa fábrica na cidade. Agências de notícias espalharam essa especulação pelo mundo afora, a ponto de sites internacionais a tomarem como “decisão consumada”. Agora, com as declarações de Dilma e Mercadante, a notícia fez o caminho inverso, inundando os sites e jornais brasileiros.

De concreto, mesmo, o que há é o seguinte:

*A Foxconn tem, sim, planos de trazer parte de sua produção para o Brasil. A ideia é diversificar, para diminuir a dependência em relação ao governo e aos fornecedores chineses (a Foxconn é uma empresa de Taiwan, país rompido com a China desde que Mao Tsé Tung tomou o poder, em 1949).

*Em comunicado, a Hon Hai Precision Industry, subsidiária da Foxconn na China, anunciou nesta quarta-feira que o Brasil tem “enorme potencial de desenvolvimento” e “ocupa posição estratégica para atender aos crescentes mercados da América Latina”. Apenas isso. Nenhuma menção à Apple ou mesmo à montagem de uma fábrica aqui (na verdade, a Foxconn já possui três – duas em São Paulo e uma em Manaus).

*O plano de montar aparelhos no Brasil estima investimentos da ordem de US$ 12 bilhões, começando a produção de fato em 2013. A Foxconn aqui já fornece componentes para empresas como Sony e HP. Além de nosso mercado interno ser muito atraente, a empresa vê com otimismo a possibilidade de montar aqui para vender aos demais países latino-americanos; além disso, o Brasil está mais próximo dos EUA, maior mercado do mundo. Portanto, haveria um enorme ganho logístico com a mudança.

*No encontro com Dilma, o presidente da Foxconn, Terry Gou (que o ministro Mercadante chamou de “o Bill Gates da Ásia”, num evidente exagero), confirmou os planos e quis saber se haverá incentivos fiscais. Dilma, é claro, disse que sim. Mas nem ela nem seus ministros sabem que tipo de incentivo pode ser concedido.

*Realmente, para qualquer empresa estrangeira, é muito mais prático produzir no Brasil (ainda que seja apenas montagem, e não fabricação propriamente dita) do que importar. Os custos de importação são risíveis, como se sabe. Mas, para viabilizar um projeto como esse, teria de haver isenções na importação de componentes, que hoje é um ponto crítico na política comercial brasileira. E, se houver isenções, elas terão de ser estendidas também a outras empresas.

*Analistas do mercado asiático de tecnologia ponderam ainda que a Foxconn não fabrica nada, apenas monta produtos a partir de encomendas de seus clientes. E seus maiores fornecedores localizam-se exatamente na China, além de Coreia e Japão. A curto e médio prazo, não há como trazê-los para este outro lado do mundo. Além disso, a mão-de-obra chinesa é infinitamente mais qualificada – e mais barata – que a brasileira.

*Por fim, a Apple – hoje o principal cliente da Foxconn – precisa ser ouvida a respeito. Depois dos terremotos no Japão, a empresa americana começou a desenhar um plano para diversificar seus fornecedores, dispondo-se até a pagar mais para evitar problemas como o desabastecimento do iPhone e do iPad nos últimos meses. Mais ainda: a Apple é a empresa mais exigente do planeta em termos de controle de qualidade. Para montar no Brasil, não vai aceitar produtos que estejam sequer um milímetro abaixo do nível atual. Como garantir isso?

 

3 thoughts on “Os planos da Foxconn no Brasil

  1. Cara, vejo que vc está interessado no assunto.

    Eu tenho a convicção que esse investimento se tornará realidade, e realmente quero mais informações sobre prováveis locais onde será instalada esta ‘cidade industrial’.

    Caso saiba ou venha a saber de algo ficarei muito agradecido ao compartilhar.

    Saudações

  2. cara descordo quando o autor fala que mão de obra é mais qualificada do que no Brasil, mais barata pode até ser mas no Brasil temos umas das melhores senão a melhor mão de obra do mundo no segmento de eletrônica.

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