Há dias, em visita ao Brasil, o presidente mundial da HP, Leo Apotheker, fez um comentário irônico sobre os estudos do governo brasileiro para conceder benefícios fiscais a fabricantes chineses. “É o sonho de todo investidor”, disse o executivo, como que a dizer: “Se eles querem, eu também quero”. Provavelmente, outros executivos do setor responderiam da mesma forma. Todos assinariam embaixo da lista de exigências feitas pela taiwanesa Foxconn para instalar uma montadora de tablets no Brasil. Como já comentamos aqui, as facilidades que a empresa encontra para produzir na China e em outros países, inclusive na América Latina, estão a anos-luz da estúpida burocracia brasileira, aliada a corrupção insaciável e uma carência de infraestrutura que só é combatida nos discursos.

Agora mesmo, o Ministério de Ciência e Tecnologia decidiu passar por cima da Receita Federal e ampliar o alcance da medida provisória 517 que, segundo o site Convergência Digital, foi criada a pedido da Abinee (Associação Brasileira dos Fabricantes de Eletroeletrônicos). Trata-se de mais um imbroglio jurídico que, quase certamente, irá se arrastar por um bom tempo. Segundo a receita, tablets não podem receber os mesmos incentivos dos computadores “porque não possuem teclado físico”. Não me perguntem quem foi o gênio que teve essa ideia… O Ministério quer colocar em vigor o mais rápido possível a MP517, estipulando que os tablets não passam de uma “evolução” dos computadores e, portanto, teriam direito aos mesmos benefícios.

Embora os chineses sejam até mais discretos (e misteriosos) do que os japoneses, seria engraçado ver a cara de um deles ao saber dessa “salada legal” bem brasileira. Na prática, se for para beneficiar alguém, o governo faria melhor liberando logo os projetos da Samsung e da Motorola, por exemplo, para produzir seus tablets no Brasil com incentivos – projetos apresentados ainda no ano passado e, portanto, bem antes dessa história de “fábrica de iPad no Brasil”. Assim como a HP, essas duas empresas, e com certeza todos os demais fabricantes de tablets, adorariam receber esse estímulo. E, jurídica e politicamente, não faria o menor sentido privilegiar uma empresa e, com isso, prejudicar as concorrentes.

Mas o governo atualmente parece que só olha para a China.

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