As capas da Folha e do Estadão neste domingo são semelhantes: todas as chamadas aparecem enquadradas em telas de tablets e smartphones. Uma ideia brilhante da agência de publicidade Ogilvy para seu cliente Claro. O recado é direto: independente da forma como você recebe as notícias, todas podem ser compartilhadas. Mas há também uma mensagem subliminar: prepare-se, a partir de agora você vai consumir cada vez mais as informações não através de um pedaço de papel, mas pela telinha de um aparelho portátil.

Claro, a essa altura ninguém precisa de bola de cristal para antever essa realidade. O sucesso da versão digital do The New York Times, que vendeu 100 mil assinaturas em um mês, não deixa mais dúvidas. No entanto, quando se fala de Brasil essas coisas precisam ser bem contextualizadas. Já li inúmeros artigos de “especialistas” cantando a morte da mídia impressa, apenas porque algum guru estrangeiro disse ou escreveu algo nessa linha. No Brasil, porém, o buraco é bem mais embaixo.

Depois que o governo anunciou medida provisória para isentar de impostos a fabricação de tablets, começa a se articular um movimento de bastidores para sabotar a ideia. Empresários com fábricas no Polo Industrial de Manaus e integrantes do governo do Amazonas já acionaram seus representantes em Brasilia. Incentivar a produção de qualquer aparelho eletrônico no país significa criar concorrência para Manaus, uma área que, por definição, é contra qualquer tipo de competição. Sabendo-se que o maior defensor da Zona Franca atende pelo nome de José Sarney, podemos esperar, no mínimo, uma boa briga nas próximas semanas.

Mas, mesmo que venhamos a ter fábricas de tablets espalhadas por outros estados e com incentivo fiscal, esse produto irá esbarrar numa outra realidade, ainda mais difícil de ignorar: a violência urbana. Está longe o dia em que um brasileiro poderá – como fazem hoje americanos, europeus e japoneses – abrir tranquilamente seu tablet numa praça e ficar ali, lendo seus textos ou vendo seus vídeos; ou no metrô, no ônibus, mesmo na padaria da esquina. Quem faz isso corre sério risco, como confirmam as dezenas, talvez centenas de executivos que já tiveram seus notebooks roubados em situações similares.

Contra isso, não há tecnologia que resolva.

 

1 thought on “Os jornais e os tablets

  1. Defender a ZFM é defender a Amazônia do desmatamento, das queimadas, do trafico de animais etc. Em uma área tão distante dos grandes centros, do que viveria o homem da região senão da floresta e de suas riquezas?

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