O novo presidente da Telebrás, Caio Bonilha, pode até não conseguir reerguer a estatal como pretende. Mas começou acertando no diagnóstico: somente através de parcerias com as operadoras privadas (grandes e pequenas) será possível levar adiante o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), ou o que restar dele. Em sua primeira entrevista, Bonilha deixou claro que a empresa não irá trabalhar “no varejo”, ou seja, competindo com as teles, mas sim atuar em conjunto com elas.

Parece óbvio, mas é exatamente contra isso que se batem os burocratas do governo, ansiosos por manter seus cargos e mamatas. Evidentemente, não se trata de tarefa fácil. Como comentei aqui anteontem, as grandes teles não têm interesse em espalhar a banda larga porque esta pode ser um tiro nos seus respectivos pés, estimulando os usuários a fazer ligações de voz pela rede, em vez de continuarem escravos das linhas convencionais. No mundo inteiro é assim, e o Brasil não tem como ser diferente. A saída, então, é negociar condições que sejam atrativas para as teles investirem no negócio. E, é claro, cuidar bem do planejamento e da fiscalização, duas coisas que parecem não combinar com o governo nos últimos anos.

Também é claro que essas negociações se dão num ambiente de conflito permanente, pois cada um quer tirar o máximo proveito da situação. Ontem, por exemplo, foi divulgado estudo da consultoria LCA indicando que o setor de banda larga irá exigir investimentos de R$ 144,6 bilhões nos próximos dez anos. Puro lobby das operadoras, pois ninguém tem como calcular esse custo, que depende de inúmeras variantes. Nas entrelinhas, as empresas sugerem que o governo deve subsidiar esse investimento (ou a maior parte dele), o que também é impensável neste momento.

O competente Renato Cruz, no Estadão, revela hoje outros detalhes desse dilema. A forma mais rápida e barata de expandir a rede de banda larga é estimular a TV a cabo, já que os dois sinais – TV e internet – podem trafegar juntos. No entanto, o que mais cresce hoje no Brasil é a TV paga via satélite (DTH), que já soma 5,245 milhões de assinantes, contra 5,126 milhões do cabo. Existem sérios conflitos de interesse entre as grandes operadoras: Net/Embratel de um lado, Oi e TVA/Telefônica de outro. Aí vem dona Anatel e decide, por conta própria, que as teles podem atuar na TV a cabo, atravessando o samba que está sendo ensaiado no Congresso para a votação do projeto-de-lei 116, que altera toda a legislação do setor.

Em suma, uma balbúrdia completa – a que o governo assiste sem saber o que fazer.

 

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