Comentei aqui anteontem sobre o início das redes 4G na Europa e nos EUA, e vejam a última pesquisa da consultoria Teleco, uma das mais sérias e competentes nessa área: somente 32,27% dos municípios brasileiros contam com rede 3G. Acredite se quiser: das 5.561 cidades espalhadas por este país, apenas os habitantes de 1.795 podem se dar ao luxo de fazer ligações desse tipo. Mais grave ainda é, das localidades servidas atualmente, nada menos do que 1.243 não têm concorrência, pois contam com apenas uma operadora. As quatro grandes do setor – Vivo, Claro, Tim e Oi – estão presentes, competindo entre si, somente em 264 cidades, ou seja, 2,12% do país.

É bom notar que, delas, só a Vivo está realmente investindo na expansão da rede (não estamos falando de qualidade da conexão). A operadora que pertence à Telefônica já cobre 1.658 municípios, tendo aumentado seu alcance para mais 452 este ano. A Claro cresceu apenas 134 localidades, enquanto a Tim, apenas 119. Já a Oi, acreditem, ampliou sua base de 211 para 217 cidades, ou seja, cresceu quase nada. Nunca é demais lembrar que foi justamente a Oi quem mais se beneficiou da política do governo Lula, que investiu pesado (na época falou-se em R$ 6 bilhões) para transformá-la numa “gigante brasileira” do setor. Não fosse o socorro da Portugal Telecom, e talvez a Oi hoje nem existisse mais…

Na minha opinião, esses dados confirmam dois equívocos. O primeiro foi o processo de privatização realizado no governo FHC. Embora tenha expandido a base de usuários de telefone, não conseguiu implantar um modelo verdadeiro de concorrência. A utopia da universalização, que nem os americanos conseguiram, impede que o mercado cresça de modo saudável e sustentável – embora os brasileiros sejam fanáticos por celular. Outro erro fatal foi a desestruturação da Anatel, por ingerências políticas, já no período Lula. Politizada, sem quadros técnicos em número suficiente e sem verbas, a Agência mais atrapalha do que ajuda, com seu “burocratismo” e uma absurda demora para tomar decisões. Quem duvidar só precisa dar uma olhada no portal da Anatel, para ver a quantidade de inutilidades ali produzidas.

Ainda vamos analisar mais detalhadamente esse problema. Por ora, fica claro que, mais uma vez, o Brasil está ficando para trás num setor essencial para quem quer chegar perto do Primeiro Mundo.

2 thoughts on “3G é coisa de elite

  1. E, na prática, as conexões 3G (HSDPA e HSUPA) são uma vergonha… as redes são capazes de 7 mbits/s, mas só “vendem” conexões de 1 mbit/s e, pior ainda, entregam 200, 300 kbps na prática. Por força do trabalho tenho 3G como backups de conexões óticas e ADSL e não importa a operadora: o serviço é triste.

  2. E caro, Julio. Cobram na faixa de 120 reais para oferecer o 1 mb, entregando 10% ou 20% disto. É, como a maioria das questões de interesse público brasileiro, lamentável…

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