Mais um capítulo dessa infeliz novela chamada “interatividade na TV Digital”. O site Terra publica declarações de Otavio Caixeta, identificado como “analista de infraestrutura” do Ministério das Comunicações. Se é desse tipo de profissional que dependem as decisões técnicas na área, estamos roubados. Vejam só:

“O governo pesquisou e investiu dinheiro para criar uma tecnologia que prestasse serviços digitais através da televisão, e a expectativa é que os fabricantes fizessem (sic) isso. Os fabricantes começaram a afirmar que não havia conteúdo nas emissoras, e as emissoras, que não havia capacidade de interatividade nos aparelhos. A solução para quebrar esse ciclo foi exigir que 75% dos televisores saíssem de fábrica com esse sistema embarcado”.

Ficamos sabendo, então, que o governo “pesquisou e investiu”. Quanto terá sido? Que se saiba, até agora todos os investimentos relativos ao desenvolvimento da TV Digital foram feitos pelas empresas (fabricantes, emissoras e desenvolvedores de software) – exceção feita aos abnegados técnicos do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), de Campinas, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia; foram eles que criaram o primeiro aplicativo pra valer a partir do software DTVi (antigo Ginga), recém-apresentado ao Minicom.

A desinformação do sr. Caixeta vai mais longe: “A indústria não demonstrou o interesse esperado em colocar o Ginga na sua linha de produção, por miopia”. O que seriam então todos os TVs já lançados, desde 2009, trazendo o conversor embutido? A Sony, só para citar um exemplo, decidiu há tempos que toda a sua linha incluiria esse recurso! E mais: se quisesse de fato saber quem tem razão nessa suposta disputa entre emissoras e fabricantes, bastaria o governo recorrer ao Fórum SBTVD, cujo Módulo Técnico, formado por 13 especialistas, estuda o assunto a fundo. É só comparar: quantos TVs já foram vendidos X quantos aplicativos as emissoras já colocaram no ar.

Quando fala em investimentos, talvez Caixeta esteja se referindo às inúmeras viagens de ministros e assessores para tentar “vender” o padrão SBTVD a outros países, na África e América Latina. Não sei se esses gastos terão dado retorno: o site Convergência Digital informa que, devido à demora do governo brasileiro em definir sua política para o setor, a Argentina conseguiu negociar 300 mil conversores com empresas da Venezuela!

Como já comentamos aqui, a interatividade é uma das maiores mistificações do mundo tecnológico, e o governo só ajuda a mistificá-la mais ainda – não sei se por leviandade ou por incompetência. Diante de argumentos como o desse sr. Caixeta, começo a crer mais na segunda alternativa.

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