Acaba de sair a segunda edição do Panorama da Comunicação e das Telecomunicações, estudo preparado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Desta vez, o trabalho foi feito em conjunto com a Socicom (Federação Brasileira das Associações Científicas de Comunicação), entidade ligada ao mundo acadêmico. É um calhamaço de quatro volumes, totalizando mais de 1.200 páginas, que comecei a ler hoje. Pela qualificação dos autores, merece ser levado a sério, analisado e consultado por todo mundo que estuda e/ou trabalha com tecnologia e comunicação. Até porque esse tipo de estudo é tão raro que muita gente por aí se arvora a dar palpites na base do achismo, sem qualquer embasamento na realidade.

A competente e sempre atenta Cristina de Luca, do site IDG Now, já analisou um dos aspectos do relatório, mostrando como o país não está sabendo aproveitar as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias. Embora até haja verbas (poucas) para financiar projetos de caráter digital, pouquíssimas empresas e profissionais estão se apresentando para usá-las. Levantamento feito pelo CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, mostrou apenas 667 trabalhos de pesquisa até o ano passado – número ridículo para um país em que o Facebook já atinge mais de 20 milhões de pessoas.

É curioso que todas as estatísticas colocam o Brasil entre os principais países no uso de tecnologia. Os números de usuários de celulares, videogame e internet dão a ilusão de que muita gente poderia estar trabalhando em atividades como software, interatividade, criação/produção de conteúdos digitais etc. Ilusão à tôa: a maior parte dos jovens parece enxergar essas atividades mais com os olhos do mero lazer do que como campo profissional. Para piorar, isso inclui também profissionais que, já estando colocados no mercado, não dão importância ao aprendizado e à atualização, que devem ser contínuos.

No fundo, voltamos ao velho problema da falta de base educacional. Quem chega a um curso superior sem nunca ter se dedicado efetivamente aos estudos (porque isso não lhe foi exigido) dificilmente vai conseguir mudar de atitude e superar, em quatro ou cinco anos, o atraso que se acumulou. E, por incrível que pareça, embora o tema educação esteja na boca de todos, na prática nada se altera. Vejam, por exemplo, as novas determinações do Conselho Nacional de Educação, que acaba de baixar suas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Raras vezes se vê algo tão desconectado da realidade diária dos estudantes.

Com mestres e orientadores desse nível, chega a ser cômico (não fosse tão trágico) pretender que os jovens se apliquem. Eles mal conseguem entender em que país estão vivendo.

Para quem quiser estudar melhor o tema, eis alguns textos que podem ser úteis:

Globalização vs. nacionalismo

Um país de cabeça pra baixo

Nossas soluções

Por maiores e melhores investimentos em P&D

A escassez de profissionais qualificados para TI

A ideologia da corrupção

 

 

 

1 thought on “Tentando entender o Brasil

  1. condordo com vc! bem dificil entender o brasil e pricipalemtne entender o que as pessoas colocam como prioridade na vida. esses dias vi uma reportagem q dizia que 90% dos brasileiros nunca entrou em uma biblioteca. vergonhoso!

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