O jornalista Rob Schmitz, da revista americana Marketplace, foi o segundo autorizado a entrar numa unidade da montadora chinesa Foxconn, onde é produzido o iPad. Cheia de segredos e coberta de denúncias sobre maus tratos aos trabalhadores, a Foxconn só havia dado acesso antes a um repórter do The New York Times. Deve ter se arrependido, pois a repercussão foi mundial. O jornal detalhou – como se pode conferir aqui – os casos de pessoas (a maioria na faixa entre 18 e 25 anos) que são forçadas a trabalharem doentes, a cumprirem horas extras que não são pagas, e que são humilhadas por seus chefes (os índices de suicídio só foram reduzidos depois que a diretoria mandou instalar grades nas janelas).

Bem, o caso de Schmitz (vejam aqui seu vídeo) foi um pouco diferente. Pelo visto, a Foxconn preparou bem essa segunda, digamos, reportagem. Primeiro, os trabalhadores foram orientados antes de conversarem com o jornalista, autor da foto acima, que mostra uma supervisora falando a seus subordinados antes do início do expediente; segundo, Schmitz foi acompanhado o tempo todo por um funcionário da empresa, que serviu também como “intérprete”; se traduziu corretamente as respostas, fica para os leitores deduzirem… Claramente, a intenção foi limpar a imagem da empresa após as denúncias dos últimos meses.

Seja como for, é interessante notar, por exemplo, que na fábrica (localizada no distrito de Longhua, em Shenzhen) trabalham 240 mil pessoas, população superior à da maioria das cidades do mundo; segundo Schmitz, 50 mil delas dormem em alojamento, na própria fábrica. E diariamente cerca de 500 se aglomeram em fila diante do portão, à espera de um emprego. Motivos: a Foxconn pelo menos paga os salários em dia, e o tratamento dispensado pelas outras fábricas locais a seus empregados é muito pior.

 

1 thought on “Por dentro da fábrica do iPad

  1. É isso:”compre um Ipad e seja responsável por um suicídio”.É a globalização e os preços baixos dos chineses…

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