Toda vez que um grande grupo estrangeiro quer investir no Brasil, os temores e indecisões se repetem. Não está sendo diferente agora com a Amazon, maior loja virtual do planeta e, na teoria, com plenas condições de tomar conta do mercado brasileiro de varejo online em poucos meses. Bem, essa é a teoria; na prática, a Amazon está diante do mesmo dilema que até hoje impediu a Apple de entrar pesado no país.

O dilema pode ser resumido na seguinte pergunta: até que ponto vale a pena investir num país complicado, do ponto de vista tributário e logístico, quando boa parte dos consumidores desse mesmo país já é seu cliente mesmo sem esse investimento? Diz reportagem da agência Reuters que as vendas para o Brasil representam 1% do colossal faturamento da Amazon. Para dar ideia do que isso significa, basta dizer que a Alemanha contribui com 1,3% dessa conta. Centenas de milhares de brasileiros já compraram os e-readers da Amazon nos EUA e estão baixando seus livros através dele, pagando bem menos do que cobram as livrarias brasileiras.

A reportagem da Reuters cita fontes ligadas a editoras que estão negociando com a Amazon e informa que a empresa planeja entrar oficialmente no mercado brasileiro entre outubro e novembro, não com sua operação completa, mas apenas com ebooks – a venda de livros impressos fica para mais tarde. Um dos cálculos usados como referência indica que o varejo online aqui movimenta US$ 10,5 bilhões, com expectativa de crescer 25% este ano, o que já seria suficiente para convencer a direção da Amazon. Hoje, a venda de livros digitais representa apenas 0,5% do segmento editorial; com a Amazon em cena, pularia para 15% (a empresa não confirma nem desmente essas informações).

Ainda segundo a reportagem, a Amazon já assinou contrato com cerca de 30 editoras brasileiras e pretende colocar à venda um catálogo de 10 mil títulos em versão digital. Os preços seriam, em média, 70% dos praticados para livros impressos, garantindo margens entre 40% e 50% para a empresa americana. Nada mau. Mas Sergio Herz, diretor da Livraria Cultura, adverte que entrar na venda de mídias físicas é bem mais complicado. “Até agora, eles estavam no céu e nós no inferno”, diz ele. “Venham para o inferno conosco”.

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