Conforme se aproximam as eleições, vale mais a pena refletir sobre certas distorções que, assim como o guaraná e a jabuticaba, só frutificam no Brasil. Vamos tentar nas próximas semanas usar este espaço para falar de algumas delas. Agradeço ao colega jornalista, e também professor da USP, Eugenio Bucci, que outro dia, no Estadão comentou sobre o “estado-anunciante”, definição que é um primor de síntese. Eugenio me deu a deixa para este post.

No Brasil, infelizmente, liberdade de imprensa é um conceito mais comentado do que praticado. São bem poucos os veículos de mídia que conseguem se manter realmente livres; e muitos aqueles que se vendem a qualquer proposta tentadora. Mais ainda em época eleitoral. O “estado-anunciante” é aquela porção do governo (federal, estaduais e municipais) que utiliza parte de seu orçamento para veicular publicidade. Em nosso país, essa prática não sofre controle de qualquer espécie. Ao presidente e seus ministros, assim como a governadores, prefeitos, secretários etc., interessa usar essas verbas para colorir suas respectivas imagens, ainda que usando dados mentirosos. O pior que pode lhes acontecer é, depois de alguns anos, o Tribunal de Contas apontar “gastos excessivos” e reprovar suas contas, o que nunca lhes traz qualquer punição.

Eugenio Bucci argumenta, com razão, que essa é a maneira mais fácil de cooptar a imprensa – pela via do dinheiro. Se grandes jornais e revistas não estão imunes, que dizer dos nanicos, especialmente no interior? O mesmo acontece com emissoras de rádio e TV, sites, blogs etc. Pense nisso toda vez que você vir um anúncio da sua Prefeitura, do governo do seu estado ou de um ministério. Preste atenção quando tropeçar com publicidade de uma empresa estatal (a escolher: Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal estão entre os maiores anunciantes do país, habituais em quase todas as mídias).

E reflita a respeito, com seus amigos e familiares: veja o que estão fazendo com seu dinheiro. Será que o governo, qualquer governo, tem direito de gastar tão despudoradamente? E o que podemos fazer para, pelo menos, refrear um pouco essa prática abominável? Taí um bom tema para levar às redes sociais e ao seu candidato nas próximas eleições.

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