Mergulhados em tecnologia 24 horas por dia, sete dias por semana (24×7, como dizem os americanos), às vezes descobrimos que não sabemos nada – ou sabemos muito pouco – sobre os verdadeiros hábitos das pessoas. Admiro aqueles que têm disposição (e tempo) para viajar pelo interior do país, ainda que seja a trabalho, e conhecer a “outra” realidade. Conheço vários profissionais que fazem isso habitualmente, e estou sempre aprendendo com eles.

Por exemplo: você sabe quantas famílias ainda utilizam TV preto e branco? E quantas não conseguiram até agora abrir mão de seus TVs de tubo CRT, apesar de toda a propaganda em torno de plasmas e LCDs? Quantas não sabem o que é TV por assinatura e continuam escravas – não há outra palavra – das novelas, ratinhos, ratões e reality-shows da vida? Quantas acessam a internet? Como este é um país sem memória e sem referências (muito menos estatísticas), só podemos imaginar. O censo do IBGE dá algumas pistas, mas nada além disso.

Lembrei disso tudo ao ler, esta semana, um artigo de Daniel Newman, especialista americano em projetos residenciais, no site Commercial Integrator, dedicado justamente a esse público. Newman pesquisou e listou produtos que os revendedores nem deveriam mais estar comercializando, já que ficaram totalmente obsoletos com a evolução tecnológica. Na lista incluiu monitores VGA, cabos e conectores S-Video e de vídeo composto, displays que não sejam Full-HD e processadores analógicos, entre outros itens. Newman é bem sincero: “Se você ainda está vendendo displays que não sejam 1080p, está cobrando de seu cliente por algo obsoleto. Pode até economizar, mas não irá resolver os problemas deles.”

ATUALIZANDO: outro artigo no mesmo site contesta os argumentos de Newman. Leiam aqui.

Pois é, talvez lá nos EUA a realidade seja mesmo esta. Aqui no Brasil, com todos os avanços conhecidos, ainda ouvimos falar de coisas que pareciam extintas. Conversando recentemente com executivos da Sony, fiquei sabendo que a empresa mantém desde o ano passando uma equipe de pesquisas encarregada de visitar cerca de 2 mil residências para descobrir os hábitos das famílias. Os dados coletados são analisados e passam a servir de referência não só para o lançamento de produtos, mas para campanhas de publicidade, materiais de ponto-de-venda e treinamento de promotores. “Estamos adequando todas as nossas linhas ao gosto e aos hábitos do consumidor brasileiro”, diz Luciano Bottura, gerente de Comunicação e Marketing. Ele atribui em grande parte a esse trabalho a recuperação que a Sony vem tendo no mercado: foram 1,5 milhão de TVs do tipo smart vendidos nos últimos dois anos, me disse ele.

Evidentemente, não há como checar esses números, nem ter acesso aos dados das pesquisas. Mas é consenso no mercado que quase metade dos TVs existentes nas residências ainda são de tubo. E que isso, em vez de ser um problema, transforma-se numa grande oportunidade, considerando que estamos a dois anos da Copa do Mundo. Há uma enorme probabilidade de que até lá essas famílias enfim adquiram seu primeiro TV de tela fina, e é nisso que estão pensando todos os fabricantes.

Mas não deixa de ser constrangedor pensar que ainda somos um país obsoleto (em vários sentidos).

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