Pelo visto, não vai terminar tão cedo a guerra entre governo e operadoras de telefonia. A notícia que vazou ontem da Anatel, dando conta de que a Tim estaria cortando propositalmente ligações de seus clientes para obrigá-los a tentar de novo (e, com isso, gastar mais), pegou quase todo mundo de surpresa no mercado. “Nunca antes neste país” uma operadora havia sido acusada de forma tão contundente. Uma denúncia tão grave que, no mesmo dia, obrigou a Agência a divulgar nota oficial desmentindo tudo! E levou o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a afirmar que trata-se de “um caso de polícia”.

Como se vê, nada que alguém possa fazer para recuperar a desgastada imagem da empresa – ainda que a denúncia não se confirme. Embora surpreendente pelo tom, o episódio se encaixa à perfeição no clima que se criou entre setores do governo e as principais teles, com a Anatel batendo cabeça no meio do bate-boca. Raras vezes se viu um setor importante para o desenvolvimento do país ser tão mal conduzido.

O jornal Folha de São Paulo, que deu o furo, não explicou (e nem deveria) como obteve acesso ao relatório da Agência. O fato é que alguém lá dentro vazou dados que, a princípio, seriam confidenciais. Exemplo: num único dia (8 de março, a Tim teria “derrubado” nada menos do que 8,1 milhões de ligações feitas por seus clientes, forçando-os a tentar de novo, como sempre se faz quando uma ligação cai; com isso, teria aumentado seu faturamento em R$ 4,3 milhões. Mais: a operadora teria “adulterado” a base de cálculo usada para mostrar que o número de chamadas com problema diminuiu!!!

Como se sabe, no final do mês passado a Tim, ao lado de Claro e Oi, foram proibidas de vender novas linhas até comprovarem estar investindo para ampliar sua infraestrutura. Milagrosamente, como lembrou o colunista Carlos Alberto Sardenberg no Estadão, as três operadoras apresentaram em alguns dias planos detalhados e foram, enfim, liberadas para voltar a vender chips. Significa dizer que os tais planos foram minuciosamente analisados e aprovados. Seria razoável supor que a Anatel levaria tempo equivalente para esclarecer agora o episódio das ligações derrubadas. Mas a Agência informa que sua investigação irá durar de dois a três meses – e isso porque o ministro pediu “máxima celeridade”.

Com uma agência reguladora como essa, quem pode dormir (ou falar ao telefone) tranquilo? É bom lembrar que, em São Paulo, estamos desde a semana passada sem conseguir completar ligações, talvez em função da mudança de número (todas as linhas tiveram que acrescentar um “9”). Algo que deveria ser banal acaba provocando mais irritação e reclamações.

Todo esse quadro, enfim, só vem comprovar que:

1) A Anatel continua absolutamente despreparada para fiscalizar quem quer que seja;

2) Também não consegue gerenciar uma mera alteração de prefixo;

3) Pelo menos um dos 600 fiscais que o presidente da Agência, João Rezende, diz estarem atuando não gosta muito da Tim, pois vazou o documento para a imprensa;

4) E o consumidor, que continua desamparado, não sabe em quem acreditar, nem quando vai poder voltar a falar ao celular despreocupado.

 

2 thoughts on “E a guerra continua…

  1. Claro(sem intenção de trocadilho com esse nome)que, em se tratando do Brasil,acredito piamente que essa denúncia é verdadeira.Se fosse num país sério,já haveriam pessoas presas pois trata-se,no mínimo, de crime contra a economia popular

  2. Todo mundo que tem Tim sabe que a denúncia tem fundamento. As vezes eu precisava fazer umas 3 chamadas pra terminar o assunto. Ou seja, ao invés de 25, ia 75 centavos por “ligação”. Mas foi só eu mudar pro plano Infinity Controle que isso acabou. Exatamente como diz a denúncia: as ligações dos planos mais populares caiam 300% a mais que nos outros planos….

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