The Wall Street Journal é um dos poucos jornais ocidentais que mantêm em Tóquio um correspondente especializado em negócios e tecnologia. Seu nome é Daisuke Wakabayashi, e têm sido dele, nos últimos tempos, as melhores análises sobre a situação difícil do país. Além de saber o que escreve, Wakabayashi possui boas fontes e costuma antecipar notícias como a troca de comando na Sony, em setembro do ano passado.

Não sem motivo, ele foi escolhido para uma série de reportagens publicadas esta semana sobre o momento atual da indústria eletrônica japonesa. “Como o Japão perdeu sua coroa eletrônica” é o título da primeira delas, que relata alguns dos motivos que, nos últimos vinte anos, fizeram gigantes como Sony, Panasonic e Toshiba perder a liderança mundial. O texto recorda, por exemplo, que o primeiro ebook da Sony, chamado Librie e lançado em 2004, vinha com software em japonês! Embora fosse um excelente produto, acabou rejeitado nos demais países e saindo de linha em poucos meses. “As empresas japonesas eram muito autoconfiantes. Não conseguimos analisar os produtos do ponto de vista do consumidor”, admitiu em junho Kazuhiro Tsuga, novo presidente da Panasonic, empresa que amargou no último ano fiscal seu maior prejuízo em 94 anos de história.

A mais recente derrota da indústria japonesa, segundo Wakabayashi, ocorreu com o surgimento da tecnologia de displays orgânicos (OLED). A Sony foi a primeira a lançar o produto, em 2007, mas as coreanas LG e Samsung estão na iminência de assumir o controle do segmento, após anos de investimento japonês. Uma derrota tão doída que levou Sony e Panasonic, duas rivais históricas a se unirem para desenvolver algo nessa área (mais detalhes aqui).

Talvez já seja tarde mais. No entanto, a longa tradição japonesa em TVs não deve ser desprezada. Outra reportagem de Wakabayashi mostra que a tecnologia 4K é um dos trunfos dos fabricantes para, quem sabe, retomar o espaço que sempre ocuparam. Prevista para estrear oficialmente na Copa de 2014 (a TV Globo tem feito boas experiências nesse campo e conta com a parceria da estatal japonesa NHK, criadora do padrão, e da Sony, patrocinadora do evento), essa tecnologia sem dúvida irá representar um novo salto tecnológico. Há uma chance, portanto.

Já o mesmo não se pode dizer do setor de comunicação móvel. O fenômeno Apple apanhou os japoneses totalmente desprevenidos, como mostra outra reportagem da série, traduzida aqui. Basta dizer que o presidente da maior operadora telefônica do país, a DoCoMo, agora desfila animadamente com o smartphone Galaxy S III, da Samsung. Uma cena como essa seria impensável nos áureos tempos da indústria eletrônica japonesa.

1 thought on “O dilema do Japão

  1. As japonesas sofreram o revés de uma antiga lei em qualquer mercado: o líder dita o caminho aos seguidores. Quando as japoneses ficaram tão confiantes a ponto de não mais direcionar o mercado, duas seguidoras resolveram mudar a rota e aí ultrapassaram seus antigos orientadores. É o normal e a Apple tem lutado para manter-se como líder em seu mercado. A disputa ainda nos dará bons comentários.

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