Não é segredo que os fabricantes de TVs, particularmente em LCD, investem bilhões em busca de aperfeiçoamentos que compensem certas deficiências inerentes a essa tecnologia. Aumentar artificialmente a taxa de renovação de tela (em Hertz), por exemplo, é um recurso para minimizar um efeito colateral do processo de iluminação interna dos pixels nos painéis de cristal líquido – o atraso na leitura é inevitável, já que cada pixel precisa “abrir e fechar” milhares de vezes por segundo.

Uma das tentativas mais interessantes da indústria para contornar as falhas do LCD foi descrita neste texto do colega Ricardo Marques, que esteve comigo em Berlim para a cobertura da IFA. A convite da Philips, ele foi conferir de perto o processo chamado tecnicamente Moth Eye (em português, “olho de mariposa”). A partir de uma descoberta biológica, os técnicos em eletrônica desenvolveram um processo diferente de construção do painel, que amplia consideravelmente a taxa de reflexão, grande inimiga das imagens contrastadas. A descoberta – descrita neste vídeo – foi do Instituto Fraunhofer, da Alemanha.

Numa explicação resumida: os olhos das mariposas possuem um revestimento externo único na natureza (foto), que absorve praticamente toda a luminosidade; ou seja, quase nada da luz que elas enxergam é refletida. Esse revestimento foi filmado e amplificado mais de 25 mil vezes, revelando uma superfície coberta de inúmeros pontos precisamente distribuídos. O espaçamento entre esses pontos é impressionantemente exato, o que, segundo os cientistas, explica o alto grau de absorção luminosa. No Fraunhofer, foram construídas réplicas dessa película sensível à luz que, aplicadas sobre folhas de vidro, receberam uma quantidade determinada de laser holográfico. Resultado: a camada de micropontos se reproduziu, permitindo obter o mesmo efeito de absorção, sem reflexões.

Foi uma experiência tão bem sucedida que passou a ser usada também em áreas como energia solar. Painéis solares agora são construídos com uma película semelhante, de tal forma que é possível maximizar a absorção da luz e, portanto, aumentar muito a eficiência no armazenamento de energia.

Enfim, um golaço dos cientistas, comprovando como a natureza pode, sim, contribuir para o aperfeiçoamento tecnológico.

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