ces-show-floorDavid Pogue, talvez o mais popular jornalista especializado em tecnologia da atualidade (escreve para The New York Times e BBC), foi cruel ao descrever a CES 2013: o evento começou “um longo e lento declínio”. Duvido que 0,5% dos mais de 6 mil jornalistas que foram ao evento, e mesmo outros que não puderam ir, concordem com ele. Mas o fato é que Pogue, irônico e debochado em seus artigos (parece alguém que detesta tecnologia…), tem um público fiel – ou não continuaria escrevendo para dois veículos tão prestigiados.

Os argumentos de Pogue são similares a dezenas de outros que já li e ouvi. Podem até ter sua lógica. Segundo diz, com 2.700 empresas lançando produtos ao mesmo tempo (a organização da CES fala em 3.250), nenhum expositor consegue a divulgação desejada, pois o espaço na mídia tem obrigatoriamente que ser dividido com os concorrentes. A CES também acontece num péssimo momento, logo após as compras de Natal – e eu acrescentaria que, para nós brasileiros, nunca é agradável trocar nosso calor de 35 graus pelo inverno no deserto americano – em média, 5 graus.

Pogue também critica a CES e seus expositores por tentarem “empurrar tecnologias que ninguém quer”. E, por fim, recorre ao estranho argumento de que as “principais” empresas estão saindo do evento (Microsoft, Dell, Lenovo, Apple). Bem, se essas são as empresas mais importantes do mundo, devo estar em outro planeta. A Apple já não participa da CES desde os anos 90, quando Steve Jobs voltou a comandá-la; a Lenovo participou ativamente este ano; a Dell não lança uma novidade há anos; e apenas a Microsoft decidiu, sim, não ir mais a Las Vegas, imitando tardiamente a Apple.

Penso, ao contrário, que um grande problema da CES ultimamente tem sido o inchaço, agregando mais e mais empresas, o que torna o evento mais gigantesco do que precisaria ser. Nos últimos três anos, os organizadores conseguiram atrair fabricantes de equipamentos fotográficos (a feira PMA agora acontece dentro da CES), computadores, telecom, aparelhos para fitness e até linha branca! Ainda assim, os maiores estandes continuam sendo: Sony, Samsung, Panasonic, Intel, LG, Motorola…, nomes que, pelo visto, Pogue não considera importantes. Ou então nunca ouviu falar em convergência digital.

O mau-humorado chega ao ponto de prever para a CES o mesmo destino da finada Comdex, que até início dos anos 90 foi a maior feira de eletrônicos do planeta e cresceu tanto que foi abandonada pelas principais marcas (e, no entanto, só exibia itens de informática). Bem, nunca se sabe. Mas, pelo menos um de seus argumentos é fácil de ser derrubado: que outro evento de tecnologia consegue tamanha visibilidade, como vimos na semana passada?

Talvez o homem se sinta melhor numa feira de antiguidades.

1 thought on “A CES não tem futuro???

  1. Bom, qual outro evento de tecnologia conseguia tamanha visibilidade do que a COMDEX em sua epoca?… E, no entanto, exatamente por conta do gigantismo, ela foi abandonada e desapareceu…

    Eu penso que o argumento faz sentido e o risco é real, sim… Se a feira cresce demais, as marcas maiores começam a abandonar o barco, porque elas não estão investindo ali para ajudar a abrir espaço para os outros. Elas estao ali para serem as estrelas, se possivel as unicas estrelas.

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