Ao mesmo tempo em que é um precioso instrumento de informação, estudo e pesquisa, a internet também serve aos interesses menos louváveis. De vez em quando, tropeçamos em textos ou vídeos que expõem o lado mais torpe do ser humano. No Brasil, tem sido cada vez mais comum a ação de aproveitadores que, explorando a (aparentemente infindável) ignorância do distinto público, atiçam uma luta pelo poder que, por si só, já seria absurda.

Infelizmente, sou obrigado a citar a fonte, neste caso, para que todos entendam (assim espero) o que quero dizer. Alguém que se assina Marcelo Caleiros perpetrou, no site Observatório da Imprensa, um amontoado de palavras a que foi dado o título de “Dilma e os desafios da comunicação”. Convém lembrar, para quem talvez não saiba, que esse site, editado pelo grande jornalista Alberto Dines, cumpre o importante papel de criticar, e às vezes também elogiar, a mídia em geral. O destaque maior, é claro, vai para a chamada grande imprensa, cujas publicações têm mais repercussão. O site é aberto a contribuições externas, o que o torna até certo ponto democrático, embora seja visível a tendência a uma espécie de petismo enrustido. Mas essa é outra discussão.

O que me espanta na referida “obra” é a desfaçatez com que o autor se propõe a ensinar o atual governo federal a se comunicar. Isso mesmo. Citando outro integrante da tropa enrustida, Luis Nassif, o “professor” lamenta o “desaparelhamento do setor público” na área de comunicação. Critica a presidente Dilma por sua “passividade” diante das críticas da imprensa e por não atender aos “desejos de setores do PT por uma política comunicacional (sic) mais ativa”. Sem uma única referência aos escândalos que enlamearam o governo e o partido, segue a denunciar a “ação minuciosamente calculada… das forças da mídia corporativa”.

E chega ao suprassumo de acusar Dilma de “não mover uma palha – assim mesmo, com esse linguajar tosco – para regulamentar a mídia ou ao menos parar de alimentá-la com as polpudas verbas da publicidade federal…”

Para completar esse verdadeiro circo dos horrores verborrágico, sugere que a presidente utilize o velho recurso dos governos militares de “plantar balões de ensaio na imprensa para testar reações”, antes de tomar suas decisões.

Essa é a “política de comunicação” que esse cidadão defende, algo que já tivemos no Brasil anos atrás, mais precisamente entre 1964 e 1985, ou antes ainda, na época do Estado Novo. A diferença é que o texto apregoa o que chama de aggiornamento, adaptando práticas e técnicas à era digital, recursos de que nossos ditadores não dispunham.

Os leitores já devem ter visto por aí artigos de teor semelhante, pois sabe-se que uma das principais diferenças entre Dilma e Lula, pelo menos até agora, é o apreço da presidente pela liberdade de imprensa. Ou não foi ela própria quem afirmou que, no caso da mídia, “o melhor controle é o controle remoto” (grande frase, por sinal)? Muita gente não tolera esse tipo de argumento, e até aí nada de novo. O que enoja é alguém defender dessa forma a manipulação da informação como política de governo, financiada pelo contribuinte.

Para coroar o despautério escrito, só faltou o autor emendar: “Dilma, me dá um emprego aí.”

1 thought on “Uma aula de manipulação

  1. Pronto! Agora é só ele lançar um blog para conseguir patrocínio da CEF e dos Correios e, como diz que é cineasta, vai ser escolhido para fazer o filme sobre a transposição do São Francisco, a obra comandada pelo Babalorixá da Banânia.

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