boseAlguns detalhes bem pessoais distinguem Amar Bose, falecido na última sexta-feira aos 83 anos, de seus contemporâneos pioneiros da indústria eletrônica (e da maioria dos empresários). Mas talvez este seja suficiente: ao se retirar, em 2011, ele transferiu o controle de sua empresa para o MIT (Massachusetts Institute of Technology), provavelmente a mais respeitada instituição do mundo na área de ensino científico e tecnológico. A Bose Corporation, fundada em 1964, tornou-se assim um patrimônio da Humanidade – embora tenha sede nos EUA, o MIT é famoso por manter as portas abertas a estudantes e pesquisadores do mundo inteiro.

Pois é, o dr. Bose – como era chamado – não teve tempo de festejar os 50 anos da empresa que criou e que, ao longo das décadas, transformou em sinônimo de inovação. Um detalhe que sempre me chamou a atenção foi por que a Bose nunca participa dos grandes eventos internacionais de tecnologia, ao contrário de todas as suas concorrentes. Quando fiz a pesquisa para meu livro “Os Visionários – Homens que Mudaram o Mundo através da Tecnologia“, descobri que Amar Bose zelava religiosamente pela aura de pioneirismo e criatividade que sempre cercou a empresa. E mais: ficara possesso com seus colegas da indústria por terem, segundo ele, boicotado a empresa após o estrondoso sucesso comercial da caixa acústica Bose 901, em 1968.

Neste artigo do site Residential Systems, Amar Bose explica melhor essa sua obsessão. Entre outras contribuições para o desenvolvimento da indústria, incluem-se a criação do primeiro sistema de cancelamento de ruídos para fones de ouvido, em 1989; e os avanços na área de compressão de sinal, no final dos anos 1990, a partir da invenção do padrão MP3 (motivo que lhe valeu, em 2007, um lugar no hall da fama da Consumer Electronics Association).

Além da obsessão técnica, Bose tinha mais pontos em comum com Steve Jobs, outro visionário. Brigava para defender seus pontos de vista. Chegou a processar a revista Consumer Reports, que numa resenha desancou a caixa 901. Perdeu na Justiça, mas a sentença do juiz entrou para a história da indústria (e Bose adorava citá-la): “Tudo que a revista escreveu é falso, mas a Constituição protege a liberdade de expressão”.

A melhor prova da paixão de Amar Bose por sua atividade é que, apesar de ter se transformado num dos principais fabricantes de caixas acústicas do planeta, ele nunca aceitou abrir o capital da empresa e comercializar ações na Bolsa. Achava, e com razão, que um investidor sem o seu comprometimento poderia desvirtuar seus princípios. Preferiu ser menos rico (o que está longe de significar “pobre”), mas mantê-los, algo cada vez mais raro, convenhamos.

E, para quem quiser compará-lo a Jobs, Bose conta com um detalhe a seu favor: graduado e doutorado no MIT, sempre valorizou, mais do que tudo, a pesquisa e o estudo científico (este vídeo mostra uma de suas aulas no Instituto, em 1996). Confiava na intuição, mas não só. O slogan da empresa – Better Sound Through Research, algo como “som melhor a partir da pesquisa” – valia também para o dono.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *