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Como é vender conteúdo de televisão num país em que a programação da TV aberta (e, portanto, gratuita) é motivo de adoração nacional?

Esse era, para resumir numa única frase, o desafio dos pioneiros que começaram o negócio da TV por assinatura no Brasil lá atrás, em meados dos anos 1980. Ao contrário de outros países (a Argentina é o caso mais próximo), a televisão aberta foi adotada pelos brasileiros desde quando nasceu, em 1950. Nossos hermanos tinham – e ainda têm – uma TV aberta tão ruim que trataram de comprar logo os primeiros pacotes, quando a TV paga se instalou por lá.

Aqui, a história é bem outra. Com o crescimento da população, a TV aberta foi se tornando, a partir dos anos 60, um vício e, também, um poderoso instrumento de integração. Os mais jovens não devem saber (isso não se ensina nas escolas), mas durante os governos militares a televisão foi fundamental no processo de formação política que se buscava, incluindo programas ufanistas – como os de Amaral Neto – e acordos tácitos com todos (isso mesmo: TODOS) os proprietários das redes.

Que bom saber que esses tempos ficaram para trás! Hoje, operadoras e programadoras de TV por assinatura têm receita mais alta do que as redes abertas, na proporção de quase 2-por-1. Enquanto caem as verbas publicitárias que sustentam a TV aberta, um fenômeno mundial, a TV fechada consegue crescer apoiada quase que totalmente na venda de assinaturas (digo “quase”, porque neste ano 7% do faturamento do setor virá de publicidade, segundo o Ibope). Certamente, se tivéssemos de novo um governo ditatorial (toc, toc, toc…), este teria muito mais dificuldade para impor suas vontades ou fazer acordos com todas as empresas envolvidas no negócio da TV paga.

Em almoço para jornalistas hoje, a diretoria da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura) apresentou oficialmente a edição de sua feira e congresso, que acontecerão na próxima semana em São Paulo. E mostrou estatísticas que confirmam a visão daqueles empreendedores citados no primeiro parágrafo. O público, que até recentemente endeusava a TV aberta, hoje demonstra alto índice de satisfação com a TV paga. E a melhor prova é que o setor continua crescendo mais do que qualquer outro na economia brasileira: ao quebrar a barreira dos 17 milhões de assinantes, em junho último, dobrou de tamanho em relação a junho de 2010.

Cumprindo o seu papel, a ABTA divulgou vários outros dados que reforçam a importância da TV paga no Brasil de hoje. Por exemplo: são 97 mil empregos (diretos e indiretos), contra apenas 24 mil em 2004; operadoras e programadoras se adaptaram com rapidez à Lei do SeAC, aprovada em setembro de 2011, aumentando significativamente a quantidade de conteúdos nacionais em suas grades, o que também contribui para gerar empregos; e, apesar de geralmente se dizer o contrário, o preço da assinatura no Brasil está abaixo da média mundial (mais detalhes aqui).

Quer dizer que está tudo bem? Não, longe disso. Continua havendo problemas no atendimento de algumas operadoras, o sinal de certos canais é precário, diversas regiões do país ainda têm, quando muito, uma única prestadora e – para complicar – temos um governo que, por não conseguir entender a natureza do serviço, vive atrapalhando. Para este último item, não vejo saída antes das eleições do ano que vem. Já para os demais, a solução envolve mais investimentos e a cobrança constante por parte dos usuários.

Dito isso tudo, tentem voltar ao passado e pensar como era o panorama há 30 ou 40 anos, quando só existia TV aberta. Fica difícil acreditar que chegamos até aqui.

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