telephone shutdownSei que os leitores deste blog não acreditam em Papai Noel e, portanto, nunca foram enganados pelas promessas do governo em relação à Copa do Mundo. Desde quando foi oficializado que o Brasil seria o país-sede, todos (digo, as pessoas bem informadas e sem interesses inconfessáveis) sabíamos que aquilo era puro marketing. Nunca houve, de fato, empenho do governo brasileiro em viabilizar as obras necessárias, até porque estas exigiam (e exigem) uma capacidade de planejamento que passa longe dos gabinetes de Brasilia.

Embora não seja prioridade num país tão carente, a Copa poderia, sim, ser uma ótima oportunidade de estimular investimentos na tão precária infraestrutura do país – era o mínimo que se poderia esperar. No entanto, trata-se de mais uma oportunidade perdida. Muito se tem falado sobre os gastos obscenos com estádios, pagos com dinheiro do contribuinte, mas esse talvez seja o menor dos problemas, pelo menos no que se refere à tecnologia.

Nesta terça-feira, ali pela hora do almoço, ouvi na rádio CBN entrevista com Eduardo Levy, presidente do Sinditelebrasil, entidade que representa as operadoras telefônicas. Sim, essas empresas estão entre as campeãs de rejeição junto ao consumidor e, por isso, é provável que suas queixas sejam ignoradas. Mas convém olhar um pouco mais à frente. “Não estão deixando implantar redes Wi-Fi nos estádios”, disse Levy, referindo-se aos administradores das arenas de São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Natal e Curitiba. Em São Paulo, onde acontecerá a abertura da Copa, a situação chega a ser vexatória: “Não temos nem uma sala reservada para instalar os equipamentos necessários”, reclama o executivo.

Depois do fiasco que foram os serviços de comunicação durante a Copa das Confederações, no ano passado, as cinco maiores operadoras do país (Claro, Nextel, Oi, Tim e Vivo) decidiram se unir numa espécie de “consórcio informal” visando à Copa de 2014. Seu raciocínio nada tem de benemérito: simplesmente, perceberam que qualquer problema será sempre atribuído a elas, as teles, a quem o governo e a Fifa delegaram a tarefa de equipar os estádios com redes decentes. Segundo Levy, a implantação demora em torno de 120 dias; estamos a 140 do início da Copa e em seis praças o trabalho sequer começou. Ou seja, o risco de um “caladão” para quem estiver vendo os jogos ao vivo é enorme.

E por que? Levy joga a culpa nos administradores dos estádios (no caso do Itaquerão, por exemplo, a direção do Corinthians). “Querem instalar redes próprias, para cobrar do torcedor”, acusa o representante das teles, que garante serviço Wi-Fi, 3G e 4G gratuitos nas arenas, se tudo ficasse, de fato, por conta das empresas. “No Rio, Brasilia e Salvador, estaremos com tudo pronto em fevereiro”, assegura.

A íntegra da entrevista pode ser ouvida neste link. Mas a pergunta que não quer (e não pode) calar é: o que têm a dizer Lula, Dilma, Blatter, governadores, prefeitos e ministros que, nos últimos anos, vêm alardeando o famoso “legado” da Copa? Não me cabe defender as teles, nem tenho a menor intenção de ir a qualquer jogo da Copa. Portanto, não me fará a menor diferença se celulares e internet estiverem ou não funcionando nos estádios. Mas essa falta de respeito com o cidadão que paga impostos já passou da hora de acabar, não é mesmo?

1 thought on “Copa corre o risco de “caladão”

  1. Infelizmente,antecipo um “fiasco homérico” nessa copa(aliás já está sendo com as broncas do Blatter).

    Essa luta de Lula por trazer esse evento dispendioso e desnecessário para o Brasil está prestes a se tornar um”tiro no pé” em suas pretenções eleitoreiras,principalmente se o nosso time não ganhar…

    Isso é Brasillllllllllll…

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