Vários fatos importantes vêm agitando a indústria eletrônica neste começo de ano. E, curiosamente, afastando os olhos para observar o quadro como um todo, percebe-se que há fortes relações entre eles. Mais importante ainda: mesmo que não estejamos vendo, esses fatos têm muito a ver conosco e com nosso futuro.

A compra da divisão de celulares da Motorola pela Lenovo, por exemplo, marca duas mudanças de rumo. De um lado, os chineses decidiram, de fato, se tornar mais competitivos no segmento de consumo (oito anos atrás, quando a Lenovo comprou a divisão de PCs da IBM, ninguém acreditava nisso); e, de outro, a Google – que em 2012 havia pago mais de US$ 12 bilhões pela Motorola Mobility – sai desse segmento com “apenas” US$ 2,9 bilhões. Este artigo dá algumas informações adicionais a quem quiser entender melhor essa operação, aparentemente sem sentido.

Já a mudança de comando na Microsoft – saiu o CEO Steve Ballmer, substituído por Satya Nadella, até então responsável pela área de computação em nuvem da empresa – significa a volta também de Bill Gates, cofundador e maior acionista. Gates, que é um profissional do software, agora vai cuidar pessoalmente do desenvolvimento de novos produtos. Lembro que, em 2008, quando Gates anunciou sua “aposentadoria”, comentei que ele jamais iria deixar a Microsoft, ainda mais num período de dificuldades como o atual, em que existe até o risco da empresa ser engolida por suas rivais (leiam aqui).

Quando o todo-poderoso Lee Kin-Hee, chairman e maior acionista da Samsung, diz que o grupo deve se voltar mais para software do que hardware, está na verdade adotando a mesma estratégia de Google e Microsoft. Idem quando Jeff Bezos, dono da Amazon, anuncia que sua prioridade é a prestação de serviços. Todas essas são peças de um mesmo tabuleiro (talvez um quebra-cabeças) em que os equipamentos são cada vez menos importantes. Ou, dito de outra maneira, o que importa é o que se pode fazer com os equipamentos.

Google, Apple, Facebook, Microsoft, Amazon, Netflix, os grandes fabricantes, as principais redes de TV e operadoras de cabo e/ou satélite – todos serão, cada vez mais, empresas de software e serviços. Quem decidiu foi sua majestade, o consumidor.

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