É quase certo que será adiado, pela enésima vez, o leilão das frequências de 700MHz que servirão de base para as futuras redes de celular 4G. Na semana passada, representantes das emissoras estiveram no Palácio do Planalto e explicaram à presidente Dilma os riscos envolvidos; as operadoras de telefonia já tinham feito o alerta. Pela primeira vez, os dois setores se unem numa reivindicação. Portanto, o governo só vai manter a data fixada (agosto próximo) se quiser embolar ainda mais essa já conturbada área da infraestrutura brasileira.

Quando surgiram as primeiras discussões sobre 4G no Brasil, ali por volta de 2008, a esperança era que se pudesse chegar à Copa de 2014 com pelo menos parte da rede funcionando nas cidades-sede. Seria um grande avanço para o país. No entanto, como em tantos outros setores da infraestrutura, a Copa até agora serviu apenas para consumir recursos em estudos e consultorias de telecom e TI (vide o atraso nas instalações de telecom nos próprios estádios). Foram estudos tão bem feitos que somente no ano passado descobriram as interferências das redes 4G sobre as transmissões de TV digital (e vice-versa)…

Nesta segunda-feira, mais um grupo de pressão veio se juntar às emissoras e operadoras. O Conselho de Comunicação Social, do Senado, pediu a suspensão da consulta pública que a Anatel está fazendo visando ao leilão. O CCS simplesmente atendeu a um pedido da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais), que deseja um pedaço da faixa de 700MHz para colocar seus canais digitais. Walter Ceneviva, jurista e membro do Conselho, teve bom senso para resumir a questão: “Antes de realizar o leilão, é preciso resolver o problema das interferências.”

Tão simples e cristalino, não? E, no entanto, ninguém no governo havia pensado nisso até agora.

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