Falar de política num blog de tecnologia é sempre um perigo. Em vários sentidos. Mas o quê fazer, se o mundo está fervendo – o mundo tecnológico inclusive? Na longa (e importantíssima) discussão promovida a partir das revelações do hacker americano Edward Snowden, a cada dia surgem novas descobertas. Mesmo que nunca mais faça nada de proveitoso, Snowden já entrou para a história moderna como uma espécie de Robin Hood digital, alguém que tomou a corajosa decisão de penetrar no coração do sistema de espionagem eletrônica global e sair contando tudo (ou boa parte do) que viu.

O problema, como sempre no mundo da política, está nos desdobramentos que os políticos acionam (ou encenam) a partir das revelações – estas, tudo indica, são reais, não foram inventadas por Snowden. A mais recente encenação vem de Vladimir Putin, o todo-poderoso presidente russo, aliás o mais poderoso desde quando Mikhail Gorbatchov comandou a célebre glasnost (abertura), nos anos 1980. Falando a jornalistas em São Petersburgo, Putin saiu-se com esta: “A internet é coisa da CIA”. Como já fizeram políticos de outros países, inclusive dona Dilma, Putin defende que o controle da rede mundial saia das mãos dos EUA.

OK, não seria má ideia, se outros países tivessem os meios para isso. Talvez Putin tenha pensado num modelo como o da ONU, ou da Fifa, apenas para citar dois exemplos de entidades mundiais que representam os países que lhes são membros. A ideia merece outro artigo. Por hoje, limito-me a transcrever aqui trechos de uma reportagem do jornal inglês The Guardian sobre o assunto, o mesmo que primeiro divulgou as revelações de Snowden. Vale a pena ler:

“O presidente russo disse que a agência internacional de espionagem dos EUA foi quem originalmente montou a internet, e continua a desenvolvê-la. Há tempos que Putin diz querer uma alternativa russa. A ideia de romper com a internet ganhou força na Alemanha, no Brasil e em outros países após as revelações do espião Edward Snowden sobre como a Agência Nacional de Segurança (NSA), dos EUA, havia se infiltrado no Facebook, Skype e outras redes sociais.

“Os críticos de Snowden dizem que uma consequência não intencional de suas revelações foi a de minimizar a natureza global da internet, além de fazê-la cair nas mãos de ditadores. Seus apoiadores respondem que foi a NSA, e não Snowden, quem destruiu a confiabilidade do servico.

“Durante uma entrevista recente na televisão russa, Putin rebateu uma questão formulada por Snowden, sobre se o país também teria interceptado e armazenado dados de ligações feitas pela internet, como fizeram os EUA. ‘Espero que não tenhamos feito isso’, disse ele. ‘Não temos tanto dinheiro quanto eles’.

“Putin admitiu haver acompanhamento de criminosos e potenciais terroristas, mas negou que haja vigilância em massa sobre os cidadãos russos. Se houvesse um sistema de internet totalmente russo, seria mais fácil para os serviços de inteligência monitorar e controlar o tráfego de informações online. O Kremlin já possui ferramentas poderosas para isso, mas mesmo assim a internet oferece uma plataforma para grupos de oposição que não encontram espaço nas redes de rádio e TV. Na mesma entrevista, Putin se referiu diretamente ao serviço de busca mais popular da Rússia, o Yandex, criticando a empresa por manter sua sede na Holanda – suas declarações fizeram as ações da Yandex despencarem na Bolsa.

“Em seu mais sério desafio à internet até hoje, Putin disse que o ‘projeto CIA’ continua em desenvolvimento e que a Rússia precisa se proteger contra ele. ‘A nação tem a obrigação de resistir a essa influência e lutar por seus interesses online’, disse o presidente.

“Os comentários vieram no exato momento em que o parlamento russo aprovou uma lei exigindo que os servidores das redes sociais sejam mantidos em território russo. A lei também determina que os sites preservem por no mínimo seis meses as informações sobre seus usuários. Executivos de confiança de Putin hoje controlam a VKontakte, maior rede social do país.

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