Chung-Hong-won-Chung Hong-won, primeiro-ministro da Coreia do Sul, renunciou ao cargo neste domingo, assumindo “total responsabilidade” pelo afundamento de um navio que, na semana passada, matou 188 pessoas (outras 114 estão desaparecidas). Durante o acidente, o capitão do navio e seus tripulantes simplesmente fugiram à chegada dos primeiros botes salva-vidas, deixando para trás os 476 passageiros a bordo. Como em qualquer país civilizado, na Coreia isso é crime equiparado a assassinato!

Não, Chung (foto) não teve culpa nenhuma na tragédia. Apenas, tomou a atitude que se espera de qualquer chefe de governo com vergonha na cara, diante da incúria e do desrespeito de funcionários públicos para com seus cidadãos. “Ao ver tantas famílias sofrendo, achei que deveria assumir toda a responsabilidade”, disse ele ao anunciar sua renúncia, segundo a agência Reuters. “São tantas as irregularidades acontecendo em nossa sociedade. Espero que meu ato ajude a corrigir esses males e que acidentes assim nunca mais aconteçam.”

O capitão Lee Jeon-seok e mais 14 tripulantes foram presos logo ao chegar em terra firme e responderão a um processo que certamente irá mobilizar o país. A tragédia foi daquelas que traumatizam uma sociedade inteira. A maioria dos passageiros do navio era composta de estudantes e professores do ensino médio, o que só faz aumentar o drama. Este vídeo mostra o momento exato em que Lee abandona o navio às pressas; logo depois, ele se confessou “envergonhado”, o que em nada irá diminuir sua pena.

Quanto a Chung, não sairá do governo imediatamente porque o presidente da República, Park Geun-hye, pediu que fique até o final das investigações (na Coreia, os poderes do primeiro-ministro são limitados). Mesmo que saia, porém, deixa um raro exemplo de dignidade e respeito àqueles que, afinal de contas, o elegeram e pagam seus salários.

Fiz questão de contar o episódio aqui para registrar como vivemos – nós e os coreanos – em mundos diametralmente diferentes. Já são conhecidas histórias de políticos que assumem de público sua culpa em tragédias e escândalos, em países como Coreia, Japão, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Alguns chegam ao extremo de se suicidar, tal a vergonha que sentem. Notícias assim soam como ficção no Brasil, onde tantas tragédias já aconteceram sem que se apurassem os culpados e – pior – sem que os governantes de plantão assumissem suas responsabilidades.

Aqui, essas figuras nem servem para admitir que a falta d’água ou um apagão de energia são problemas graves e que poderiam ser evitados. Pior ainda, riem solenemente da nossa cara. Na deles, a vergonha não cola.

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