Se o Brasil não cuida dos seus estudantes e finge que os está ensinando, como definiu brilhantemente o economista Eduardo Gianetti, quem sabe outros países possam fazer melhor esse trabalho. Nas próximas terça e quarta-feiras, a Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo, será palco de um evento que merece aplausos: o Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, promovido pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo (DWIH-SP), com apoio da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha.

O encontro é gratuito e aberto a professores, pesquisadores, educadores e estudantes das áreas em que o estudo da Matemática – eterna pedra no sapato dos brasileiros – é essencial: engenharia, arquitetura, economia, informática, telecom etc. Vários especialistas estão vindo da Alemanha para falar sobre como tornar mais atraente o ensino da Matemática e como essa ciência se aplica no dia a dia.

Recentemente, um matemático brasileiro, Artur Ávila, ganhou o chamado Nobel da Matemática, vencendo concorrentes de vários países. Foi a primeira vez que o troféu foi concedido a alguém que não é do Primeiro Mundo (na verdade, Artur tem dupla cidadania: é brasileiro e francês). O fato foi saudado como “prova do talento brasileiro”, mas um dos motivos que levaram o DWIH-SP a organizar o evento da próxima semana (já é o terceiro ano consecutivo) foi justamente a defasagem de estudantes e profissionais brasileiros em matemática. O problema, já tantas vezes denunciado, está por trás da crônica falta de mão-de-obra qualificada, que está paralisando a evolução do país.

Claro, não é só a Matemática. Pesquisa organizada pela Fundação Dom Cabral no ano passado revelou que 58% das empresas aponta a falta de formação básica como a maior dificuldade na contratação de novos profissionais. Esse simples dado já serve para confirmar que, muito além daqueles 7 x 1, os alemães nos vencem de goleada em vários setores.

O que achei mais curioso é que nenhum órgão de governo (federal, estadual ou municipal) está envolvido no Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação. Pensando bem, isso é ótimo. Só falta chegar no dia e aparecer algum candidato querendo faturar com o evento…

Em tempo: quem quiser mais informações sobre o encontro deve acessar este link.

Ajuste de última hora: pouco depois de publicar o texto acima, fiquei sabendo, pelo site Convergência Digital, que outro brasileiro (Murilo Zanarella) acaba de ganhar medalha de ouro na Olimpíada Iberoamericana de Matemática. Outro brasileiro, Alessandro Pacanowski, já havia obtido prêmio semelhante esta semana. O Brasil ainda tem mais duas medalhas de prata. Parabéns a todos e a seus professores.

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