trumpA uma semana da posse do novo presidente americano, ainda há quem duvide que sua eleição tenha mesmo acontecido. Como já vemos no Brasil desde 2014, os EUA são hoje um país dividido – e o mundo parece caminhar para a mesma separação, entre inimigos e/ou temerosos de Trump e seus apoiadores e/ou aqueles que não o levam a sério nem vêm o menor problema em suas ameaças.

Falando especificamente de tecnologia: na semana passada, Tim Culpan, o correspondente da agência Bloomberg em Taiwan, publicou uma nota curiosa sobre uma dessas ameaças: a de obrigar empresas americanas a fabricar seus produtos no próprio país. O texto é escrito como se o autor fosse ninguém menos do que Terry Gou, o chamado “rei do iPhone”, dono da Foxconn (e agora também da Sharp), principal montadora dos produtos Apple. Já comentamos sobre ele aqui, aqui e aqui.

O artigo – que também cita o Brasil – é tão cômico (aqui está o original) que vale a pena repassar alguns trechos:

“Caro Mr. Trump, você não me conhece, mas eu sou Terry Gou, o homem que produz seu iPhone. Sua vitória me fez pensar em me candidatar. Da próxima vez que você conversar com o presidente de Taiwan, talvez seja eu do outro lado da linha.

“Temos muito em comum, você e eu. Ambos somos bilionários (embora eu seja mais rico), gostamos de construir coisas, somos casados com mulheres lindas, e ambos odiamos Wall Street. Sei que você vem prometendo criar um monte de empregos, por isso quero lhe dar alguns conselhos. Primeiro, você na verdade não precisa criar nenhum emprego, precisa apenas fazer as pessoas pensarem que irá criá-los. Tenho certeza que sabe como fazê-lo.

“Posso ajudá-lo, aliás. Se olhar para países como Brasil, Indonésia, Índia e meia dúzia de províncias chinesas, verá que meu trabalho fala por si. Não produzi lá nem um simples iPhone, e nunca o farei. Mesmo assim, eles passaram a acreditar que eu investiria US$ 10 bilhões numa fábrica de iPhones. Não tenho culpa se algum político mal intencionado engana a mídia.

“Ouvi dizer que você quer obrigar a Apple a fabricar coisas nos EUA. Sabe, Tim Cook (N.R.: presidente da Apple) não fabrica nada, eu sim. Na verdade, tive US$ 75 bilhões de faturamento com eles no ano passado.

“Eu sou um fazedor, mr. Trump. Eu faço as coisas acontecerem. Quando a Apple me pediu para produzir iPhones no Brasil para driblar as tarifas de importação, eu fiz. Não criei muitos empregos, apenas exportei iPhones pré-fabricados para eles montarem lá, como se fosse Lego. Mas fiz o que pediram. Tanto Apple quanto os políticos brasileiros ficaram felizes. E quem você acha que pagou por isso? Não fui eu.

“Se você quiser que eu monte iPhones nos EUA, posso fazer. Posso até produzir uma linha de montagem numa de suas Trump Towers, se você quiser, só que os custos serão aaaaaltos! Tenho que pagar minhas despesas: fábricas, trabalhadores, transporte. Sabe, eu não fabrico na China só porque é mais barato, mas porque lá estão milhares de fornecedores e mais de 1 milhão de pessoas que emprego.

“Posso instalar mais robôs nos EUA, claro, mas vai demorar meses para treiná-los, quando um humano pode ser treinado em poucas horas. Além disso, mais robôs significam menos empregos. Aumentar suas tarifas de importação não vai adiantar muito, mas me dê algumas isenções de impostos, subsídios para contratar trabalhadores, energia barata e terra grátis. Tenho certeza de que poderemos chegar a um acordo. Me diga quais os números que você quer tuitar e terá todo o meu apoio.

“Mas, lembre-se: como aquele muro que você está pensando em construir, alguém terá de pagar a conta. E não serei eu, isso eu lhe garanto.

“Felicidades, Terry Gou, Chairman, Foxconn Technology Group”.

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