E o que parecia ficção está acontecendo na vida real. O decreto de Donald Trump (ainda não me acostumei a chamá-lo de “presidente”) proibindo a entrada de pessoas vindas de alguns países causou verdadeiro caos em diversos aeroportos americanos no fim de semana. Além dos protestos, já esperados, muitos passageiros (e até tripulantes) ficaram retidos ou foram simplesmente mandados de volta. Como a decisão não foi antecipada, nem devidamente explicada, os agentes de segurança em serviço não sabiam exatamente o que fazer. Muitos passaram a agir por conta própria. Alguns detalhes, aqui.

O problema atinge em cheio a indústria de tecnologia. Como se sabe, empresas como Apple, Google, Microsoft etc. mantêm centenas de executivos em outros países, alguns deles praticamente viajando sem parar. Se os novos métodos forem efetivados (alguns juízes estão decidindo contra o presidente nesse quesito), ficará bem complicado trabalhar no setor. Por enquanto, o decreto vale por 90 dias.

Quem conhece o Vale do Silício sabe que aquilo não existiria sem a presença de profissionais não americanos. Só ali estão as sedes de 40 empresas listadas entre as maiores do setor pela revista Fortune. Cidades como Seattle, Los Angeles, San Diego, Phoenix, Dallas e Austin servem de base a pelo menos outras 50 corporações ligadas a internet e/ou telecom. A proibição foi extensiva até a quem possui um green card, ou seja, estrangeiro com direito de viver e trabalhar nos EUA. Muitos deles são oriundos do Irã e demais países do Oriente Médio afetados pela medida.

As reações vieram quase que na mesma hora, como vimos no site The Globe and Mail, que cobre o mercado de tecnologia. Reed Hastings, fundador e presidente da Netflix, comentou que as as atitudes de Trump são “antiamericanas”, pois prejudicam os funcionários da empresa em diversos países. Tim Cook, da Apple, enviou mensagem a seus executivos afirmando que “a Apple não existiria sem os imigrantes”. Mark Zuckerberg, da Facebook, lembrou que seus parentes e os de sua esposa também foram imigrantes. A direção da Google emitiu uma ordem chamando de volta todos os seus executivos internacionais dos países envolvidos, com medo de que mais tarde eles não consigam entrar.

Travis Kalanick, CEO da Uber, revelou que irá questionar o presidente em reunião que está marcada para a próxima semana, em Washington, com a presença de vários executivos de tecnologia. “Essa decisão irá prejudicar muita gente inocente”, afirmou ele em sua página no Facebook.

Pelo visto, só quem está satisfeito com as medidas de Trump é a indústria canadense de tecnologia, que vem perdendo cada vez mais talentos para o Vale do Silício. “Agora, temos a chance de reverter isso”, comentou Jim Balsillie, ex-CEO da Blackberry e hoje membro do Conselho Canadense de Inovação. “É triste, porque toda empresa de tecnologia é por natureza multicultural, mas quem sabe o governo do Canadá não aproveita para facilitar a concessão de vistos a profissionais da área”?

Atualizando: o movimento se expande – Linked In, o site de relacionamento profissional para onde tantos acorrem diariamente em busca de emprego, criou o comitê especial para ajudar refugiados a encontrar recolocação. Airbnb, famoso serviço de auxílio a viajantes de todo o planeta, promete acomodações gratuitas para pessoas atingidas pelas restrições do governo Trump. E a rede de cafeterias Starbucks nunca a contratação de 10 mil refugiados, nos próximos cinco anos, em 75 países onde atua.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *