Na Índia, população oito vezes maior que o Brasil, existem as castas. Enquanto a maioria se esmaga numa mistura de miséria, ignorância e religião, partes da sociedade indiana se organizam em grupos fechados, com crenças e estilo de vida que se reproduzem há séculos. Praticam a endogamia radical, inclusive com castigos aos indivíduos que ousam questionar o sistema de castas. Por lá, o simples ato de falar em igualdade de gênero, como vemos hoje no Ocidente, pode ser enquadrado como crime. E, claro, os membros das castas têm um padrão de vida muito acima da média, já que sua riqueza milenar só vai se acumulando.

No Brasil, o mais próximo que temos de uma casta é o poder judiciário, não no sentido comportamental mas nas formas de organização (e autoproteção) e nos benefícios que se perpetuam. Como bem lembra o colega Carlos Brickman, atualmente recebem auxílio-moradia 88 juízes de tribunais superiores, nove ministros do Tribunal de Contas da União, 553 conselheiros de tribunais de contas de Estados e Municípios, 14.882 juízes, 2.381 desembargadores, 2.390 procuradores do Ministério Público Federal, 10.687 procuradores dos ministérios públicos estaduais. Total das despesas: R$ 1,580 bilhão por ano.

Pela lista, nota-se que o mimo é restrito aos funcionários graduados, que recebem bons salários e, em geral, possuem casa própria na mesma cidade onde trabalham. É injusto condenar todos os funcionários do sistema judiciário quando se sabe que a maioria continua vivendo apenas do próprio salário, e este segue a baixa média nacional. Mas um economista sensato dividiria R$ 1,580 bi pela soma dos funcionários acima (30.990), chegando à impressionante cifra de R$ 51.132 por ano per capita – apenas com auxílio-moradia. 

Se isso não é uma casta, é bom perguntar aos universitários indianos. Como se tem visto, as castas brasileiras se formam não necessariamente por berço, mas quase sempre por interesse. Muitas agora protestam, por exemplo, contra a reforma da previdência ou a privatização da Eletrobrás, provando que se beneficiam do atraso do país. Sindicatos, clãs políticos, entidades empresariais, ONGs, movimentos sociais e máfias diversas sabem bem como funciona.

Aliás, Brickman lembra que é de R$ 1,7 bilhão (pouco mais que um auxílio-moradia anual) o custo estimado da campanha eleitoral de 2018. Como foi proibida a ajuda de empresas aos partidos, essa fortuna será paga por todos nós, com o pomposo nome de “financiamento público”. 

Nunca é demais lembrar a frase de Margareth Thatcher: “Dinheiro público não existe, o que há é apenas o dinheiro dos contribuintes”. Com ou sem casta.

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