É de lei: em todo evento sobre televisão, internet e novas mídias, Netflix acaba sendo o malvado favorito dos participantes. Os números assombrosos da empresa americana, seu alcance mundial crescente, seus novos produtos e as formas como os leva a seus assinantes, tudo é esquadrinhado e comentado, às vezes com ardor que lembra uma campanha eleitoral. Não foi diferente esta semana, no Pay-TV Fórum, evento promovido pelas revistas Teletime e Tela Viva, que aconteceu em São Paulo.

“A Netflix está produzindo muita merda…”, sentenciou Alberto Pecegueiro, diretor geral da Globosat e hoje um dos principais estrategistas do Grupo Globo, emulando alguns candidatos à Presidência da República. A frase surgiu em meio à análise do executivo sobre o mercado de TV paga e o crescimento do serviço online que é líder mundial. “A Netflix está produzindo loucamente  para compensar a perda do conteúdo dos grandes estúdios norte-americanos, que estão retirando seus filmes e séries para lançar serviços próprios”, disse Pecegueiro, integrante da equipe que, 27 anos atrás, fundou a Globosat.

Comentando a notícia de que a Netflix está investimento US$ 8 bilhões por ano em produções próprias, ele lembrou que a empresa teve prejuízo de US$ 845 milhões no primeiro semestre deste ano, o que teria sido seu “primeiro soluço”. Sua previsão é que o modelo de negócios Netflix, tão admirado hoje, não irá se sustentar por muito tempo. “Por que se entrega tanto conteúdo por tão pouco valor”? perguntou ele aos participantes do Fórum. “Netflix tem inúmeras qualidades. Ninguém questiona as novidades tecnológicas e a mudança no hábito de consumo que ela trouxe. Mas até que encontre um modelo sustentável, ela é uma destruidora do valor do setor”, acrescentou.

Aqui, mais detalhes da fala de Pecegueiro. Sintomaticamente, no mesmo evento o diretor do GloboPlay, João Mesquita, anunciou a expansão do serviço para disputar o mercado de VoD com o Netflix. “Não vamos concorrer propriamente; para alguns usuários, seremos a segunda opção, para outros seremos a primeira”, previu Mesquita, revelando que o GloboPlay possui hoje cerca de 20 milhões de usuários.

1 thought on “Preço baixo da Netflix preocupa TV paga

  1. Obviamente não pretendo entender mais do negócio do que o tal do Sr. Pecegueiro, mas tenho minhas opiniões baseadas em minha experiência profissional em várias empresas, não desse ramo. Resumindo: quando o Sr. Pecegueiro pergunta “porque entregar tanto conteúdo por tão pouco valor?” está partindo de uma premissa um tanto equivocada, porque ele supõe que os custos das Organizações Globo são a referência do mercado, mas não deveriam ser. Nas últimas décadas eles inflacionaram o mercado pagando salários absurdos aos seus colaboradores (artistas, técnicos, administradores, etc.). A maioria dos artistas ganha trabalhando e sem trabalhar, para haver a retenção dos “passes” dos mesmos. Estabeleceram como meta a “qualidade absoluta”, mas em minha opinião alcançaram tal meta somente no setor técnico e o conteúdo saiu perdendo. Será que o Netflix não estaria mais próximo dos custos e dos preços razoáveis para esse mercado e os mostrengos, que não conseguem maior eficiência, estão preferindo somente depreciar a concorrência, ao invés de buscar menores custos operacionais?

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