O governo decidiu endurecer o jogo com emissoras e operadoras e confirmou que o leilão das frequências de 700MHz, a serem usadas para as futuras redes de celular 4G, acontecerá mesmo no dia 30 de agosto, como previsto. Nesta terça (03/06), encerra-se a consulta pública de 30 dias, que supostamente servirá de base à redação do edital do leilão. Digo supostamente porque tudo indica que esse edital já está redigido e aprovado, só não divulgado ainda. As empresas queriam mais um mês de prazo, mas a Anatel vetou.

Basicamente, o leilão será dividido em cinco lotes (detalhes aqui), sendo que três deles cobrem todo o território nacional; portanto, devem ser os de maior disputa. No entanto, a Anatel não deu ouvidos aos alertas sobre interferências dos sinais de 4G sobre as transmissões de TV digital. As frequências a serem leiloadas estão na faixa de 698 a 806MHz, hoje ocupada pelos canais analógicos de TV UHF. Com a digitalização, parte das frequências ficará com as emissoras e parte será vendida às operadoras. O governo tem pressa porque está de olho exatamente nesse dinheiro: a ideia é pedir R$ 8 bilhões, o que ajudaria a fechar o caixa do Tesouro, combalido pela atual política fiscal e pela queda da atividade econômica.

Como diria Garrincha, porém, faltou combinar com os russos. Já se sabe que as operadoras farão de tudo para não desembolsar essa fortuna (há até no setor quem defenda que as frequências lhes sejam entregues de graça…). E vai aumentar a pressão das emissoras para que se resolva de vez a questão das interferências. No evento SET Expo, marcado para 24 a 27 de agosto em São Paulo (vejam a coincidência de datas…), haverá uma avalanche de discursos e debates sobre o problema, que a Anatel e o Ministério das Comunicações fingem não levar a sério.

Enfim, vem aí mais um cabo-de-guerra desnecessário, que poderia ser evitado se o país tivesse uma política industrial e de telecomunicações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *