Ultimamente, quem critica os governantes e os políticos brasileiros tem sido acusado de “antipatriota”, entre outras bobagens (neste artigo, analiso o tema com mais profundidade). Mas, na área em que atuamos (tecnologia), é difícil passar um dia sem notícia ruim, desanimadora, especialmente em época de eleição. Digo isso a propósito de uma notícia que vem do Japão: lá, o governo constituiu uma estatal chamada JDI (Japan Display Inc.), formada pelo que sobrou das divisões de displays da Sony, Hitachi e Toshiba. As três, como se sabe, sofreram muito com a crise desde 2008 e foram obrigadas a se desfazer de fábricas e equipamentos. Terceirizaram toda a produção de paineis e, com exceção de algumas linhas premium, se tornaram apenas “vendedoras” de produtos acabados.

Diferença fundamental em relação ao que normalmente acontece no Brasil: nenhuma das empresas em crise recebeu financiamento público. Assim como outras afetadas pela recessão e pela concorrência chinesa e coreana, tiveram que se virar no mercado e estão pagando por isso com severas quedas nas receitas e fuga de acionistas. O que o governo japonês decidiu é que não poderia simplesmente deixar apodrecer os ativos de três gigantes como aquelas.

A partir de um fundo de investimentos, de nome INCJ (Innovation Network Corporation of Japan), formado com o objetivo de resgatar o Japão que já foi líder mundial em inovação tecnológica, criou-se uma nova política de governo. Com dinheiro desse fundo, a JDI acaba de se associar à Sony e à Panasonic para desenvolver em conjunto a tecnologia OLED, que os japoneses consideram o futuro dos displays. Chineses e coreanos, pelo menos por enquanto, não estão conseguindo produzir displays para TVs OLED de boa qualidade; a exceção é a LG, que já possui a maior fábrica do gênero e colocou no mercado internacional alguns TVs com essa tecnologia. É bom lembrar que há enormes diferenças entre OLEDs para telas grandes e pequenas; estas são bem menos complexas de fabricar.

De quebra, a iniciativa do governo japonês está revertendo na recuperação de milhares de trabalhadores que haviam perdido seus empregos no auge da crise. Ninguém está recebendo dinheiro sem trabalhar, e o caminho será árduo para esse país já tão sofrido. Mas, com todos os problemas, as autoridades por lá sabem que, como já disse alguém, “a melhor política social é um bom emprego”.

Tomara que dê certo!

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