Esta semana, a Anatel anunciou sua decisão sobre a distribuição de conversores de TV Digital aos cadastrados no programa Bolsa Família. São cerca de 14 milhões de famílias que a partir do ano que vem começarão receber os aparelhos gratuitamente – pelo menos, essa é a promessa. Após meses de negociação com fabricantes, operadoras e emissoras, ficou definido que a caixinha terá (para o governo) um custo em torno de 30 dólares, segundo leio no site Convergência Digital.

Só relembrando: a oferta gratuita foi a forma que o governo encontrou de evitar que o chamado switch-off (desligamento dos transmissores analógicos das emissoras) deixe milhões de casas sem sinal de TV. Isso fatalmente aconteceria se todo mundo tivesse que adquirir o conversor, cujo custo de mercado está próximo de 100 dólares. A má notícia é que o conversor gratuito não terá conexão à internet, apenas entradas USB e Ethernet, úteis caso o feliz recebedor tenha como comprar um modem de banda larga.

Em compensação, o Ministério das Comunicações exigiu que o aparelho traga embutido o firmware Ginga, para aplicações de interatividade como acesso a serviços públicos de saúde, previdência etc. Fica em suspenso como se dará o milagre de oferecer tais serviços sem uma conexão de internet. Assim como os bolsistas continuam sem saber quem pagará por suas antenas para captar o sinal digital das emissoras (sem antena, não há sinal).

Com tudo isso, Anatel e Ministério empurram com a barriga um problema que, na prática, ninguém quer resolver: devido ao ajuste fiscal, não há dinheiro para bancar a promessa demagógica de conversor gratuito para todas as famílias pobres. E, sem isso, dificilmente as emissoras concordarão em desligar seus transmissores correndo o risco de perder milhões de telespectadores. Afinal, elas vivem de audiência!

Em tempo: tudo que o governo não quer é que essa bomba estoure em 2018, ano das próximas eleições presidenciais.

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