Vídeo é a nova revolução do cinema

Por Tom Butts* 

Era uma vez um sistema de entretenimento absolutamente estável. As linhas de demarcação entre TV e cinema eram claras. Sim, grande parte dos conteúdos exibidos na televisão vinham exatamente dos mesmos estúdios que produziam os sucessos do cinema. Mas os astros de Hollywood raramente cruzavam essas linhas para aparecer na TV; esta era vista como um produto inferior.

Pois esses tempos acabaram. Desde que séries como The Sopranos e The Wire tornaram a televisão “respeitável”, já vimos inúmeros atores e produtores de cinema gravitarem em direção à telinha. Hoje, a mídia TV é encarada como um ambiente mais aberto e propenso à experimentação (ainda mais, é claro, quando se tem centenas de canais para preencher).

A indústria de cinema vem sendo apontada, cada vez mais, como repetitiva, estagnada, um segmento onde quem manda são os financistas e onde ninguém dá um passo sem consultar o pessoal de marketing. Nada mais garantido, nesse ambiente, do que criar as chamadas “franquias”, séries com super heróis que são estendidas até onde possível.

Mas esse esquema está começando a ser questionado. E muitos veteranos de Hollywood já pedem mudanças. Num evento recente em Los Angeles, Steven Spielberg advertiu sobre uma iminente “implosão”, caso Hollywood continue apostando apenas em superproduções de US$ 200 milhões para pagar as contas. Pode parecer ironia, partindo de um cineasta que ajudou a inventar as séries com super heróis.

Até por isso, é importante dar crédito às palavras de Spielberg. “Haverá uma implosão ou uma derrocada… três, quatro ou meia dúzia de superproduções irão fracassar, e isso fará mudar o paradigma da indústria”, diz Spielberg. Ele e seu velho amigo George Lucas imaginam um futuro em que os ingressos para assistir no cinema uma sequência de Homem de Ferro, por exemplo, custem bem mais caro do que os demais filmes, inclusive um Lincoln, do próprio Spielberg.

É talvez desse tipo de revolução que Hollywood esteja precisando. E todo mundo sabe que a televisão vem sendo, por si só, uma revolução há cerca de dez anos. Sua programação possui o tipo de flexibilidade que falta ao cinema. Com a explosão das opções multiplataforma, incluindo os serviços OTT (over-the-top), aquela mídia que ainda chamamos “televisão” proporciona a variedade que os consumidores adoram.

Na verdade, a indústria da televisão está sendo forçada a isso por serviços como Amazon e Netflix. Empresas como Google e Intel estão criando serviços virtuais de vídeo que representam ameaça às operadoras de TV por assinatura. Nos EUA, a FCC (Federal Communications Commission) está avaliando a possibilidade de rever a definição de “distribuidor de programação de vídeo multicanal”. Ou seja, pode ser haja ainda mais rupturas nesse mercado.

Há quem argumente que isso pode resultar numa postura mais conservadora do mercado, mas provavelmente a concorrência não permitirá que tal ocorra. Os bárbaros preparam-se para entrar em ação. Estamos começando a ver movimentos na questão do financiamento aos filmes de Hollywood, e talvez isso traga mais qualidade e variedade. Ou será que a indústria vai esperar o dia da “implosão” prevista por Spielberg. Tomara que não. 

*Artigo publicado originalmente no site TV Technology