Sony acerta sua divisão de TVs. Será que é suficiente?

Por Erick Pfaner & Takashi Mochizuki*

Depois de dez anos e mais de US$ 7 bilhões de prejuízo, a divisão de TVs da Sony Corporation parece que terá lucro no atual ano fiscal. Mas a questão permanece: será que vale a pena manter esse negócio que já foi o orgulho da empresa de eletrônicos mais famosa do Japão?

Masashi Imamura, que dirige a divisão de TVs, diz que sim, mesmo considerando que o hábito tradicional de ver televisão está perdendo espaço para outras formas de acesso a conteúdo digital; e que os grandes fabricantes hoje enfrentam novos concorrentes, como a americana Vizio e a chinesa Hisense. “Sem TVs, a Sony não conseguiria ao consumidor a experiência emocional a que nos comprometemos”, explica Imamura, veterano da Sony, em uma de suas primeiras entrevistas desde que a divisão de TVs tornou-se uma empresa independente dentro do grupo.

Só que a atual operação de TVs da Sony, que está surgindo após uma década de erros de marketing (quando perdeu a chance de explorar os segmentos de plasma e LCD), é muito mais modesta do que aquela que foi responsável pelos TVs Trinitron, com tubos CRT, que dominou as residências entre os anos 1970 e 2000.

No terceiro trimestre deste ano, a Sony detinha 8% do mercado mundial de TVs, bem atrás das coreanas Samsung (com 27%) e da LG (15%), segundo a consultoria DisplaySearch. Para o ano fiscal que terminará em março de 2015, a Sony calcula vendas no total de aproximadamente US$ 8,8 bilhões no setor de home entertainment, que inclui, TVs, aparelhos de áudio, players DVD e Blu-ray, entre outros eletrônicos. Para 2018, a previsão é de encolher para US$ 8,4 bilhões.

Este ano, a divisão de TVs irá apresentar pequena margem de lucro, que irá crescer no máximo 4% nos próximos três anos. Alguns analistas acham que qualquer coisa abaixo de 5% torna sem sentido para a Sony querer manter o negócio. Sugerem que o grupo tente manter seu foco em operações mais promissoras, como a dos videogames PlayStation, sensores para câmeras de smartphones e conteúdos de vídeo e televisão.

O executivo-chefe da Sony, Kazuo Hirai, já disse que o grupo poderia considerar a possibilidade de uma parceria para a produção de TVs. E Imamura não descarta uma venda pura e simples, se os lucros forem inalcançáveis. “Manter o negócio de TVs é importante, mas sustentar o grupo como um todo é mais essencial”, resumiu.

Mesmo com a divisão de TVs saindo do vermelho, a Sony terá que fazer escolhas difíceis para navegar num mercado cada vez mais complicado e com margens de lucro reduzidas. Durante a longa crise, a Sony se concentrou no preço e no design dos TVs, introduzindo modelos mais baratos para se manter competitiva. Mas os lançamentos mais recentes voltaram ao que sempre foi sua força, a qualidade de som e imagem.

Imamura diz que, em vez de buscar participação de mercado, a Sony irá focar nos TVs high-end, incluindo os 4K, cujas vendas vêm ajudando a aumentar o faturamento desde 2012. O objetivo, afirma, é garantir a rentabilidade mesmo que as vendas caiam 20% ou 30% – essa é também a meta da Sony para sua divisão de smartphones. “Nosso compromisso é nos tornarmos lucrativos, não importando o que aconteça com a indústria em geral”. Aos 57 anos, o executivo dirige a divisão de TVs desde 2011, após ter conduzido ao sucesso a divisão de câmeras digitais.

Na era dos chamados TVs inteligentes (smart), Imamura revela ainda que pretende aprimorar os softwares de interface, para tornar mais fácil o acesso a conteúdos baseados na nuvem, de tal modo que o usuário precise acionar menos botões no controle remoto. Diz ainda que sua equipe está trabalhando junto com engenheiros das divisões PlayStation e Xperia (smartphones) para facilitar as conexões entre aparelhos através da internet. “Um TV deve ser fácil de usar, porque as pessoas assistem quando estão relaxadas. Essa é a nossa definição de smart TV”, conclui.

* Texto publicado originalmente no site do The Wall Street Journal. Clique aqui para ler o original na íntegra.