Do DVD ao Blu-ray, o dilema do consumidor

Por Jason Bovberg

Pode ser que você, leitor deste artigo, seja um colecionador de filmes. Se for como eu, sua coleção teve início exatamente com a chegada do DVD. Foi quando o conceito de home theater começou a tomar conta de todos nós. Sim, fitas VHS sempre pareceram um meio precário de conservar nossos filmes favoritos, com aquelas imagens arranhadas e o desgaste contínuo dos mecanismos de gravação.

Alguns de nós ainda lembramos com saudade dos laserdiscs, mas no íntimo sabíamos que aqueles bolachões analógicos nunca dariam certo. Não, foi o DVD que revolucionou tudo – até aí, nenhuma novidade, mas vale a pena repetir, agora que estamos diante de um novo dilema, entre a predominância do DVD e o surgimento do Blu-ray.

Adoro filmes desde sempre, e ainda guardo na lembrança as primeiras vezes em que assisti desenhos da Disney e Star Wars no cinema. Aquilo tudo me seduziu de tal maneira que comecei a pensar num jeito de levar os filmes para casa. Aprendi muito sobre cinema vendo fitas VHS, mas desde o início sabia que aquele era um formato com limitações. Tanto que nunca tive vontade de montar uma videoteca, sempre achei que aquela era uma mídia para locação (até hoje acho as fitas melhores para alugar do que o próprio DVD).

O DVD me trouxe tudo que eu desejava em termos de “cinema em casa” – só faltava a imagem verdadeiramente em alta definição. Para espremer tanta informação, o formato sacrificou a qualidade de alguns filmes. Mas esses pequenos pecados logo eram esquecidos, porque tudo o mais num DVD era perfeito: a qualidade de imagem muito superior à do VHS ou do Laserdisc; o áudio surround como nunca se tinha ouvido antes; e a enorme quantidade de informações adicionais sobre os filmes, que em alguns casos equivaliam a um curso de cinema – comentários em áudio, cenas cortadas, making-ofs, erros de produção, tudo isso enriquece a experiência de se ver um filme.

Agora, está aí o Blu-ray, a nova geração do DVD, que resolve ao mesmo tempo os dois maiores problemas do formato: a capacidade de armazenamento de informações e as limitações da imagem. E eu me vejo pressionado a adotar entusiasticamente a novidade, e ter que abandonar minha fabulosa coleção, com mais de 500 DVDs. Deve haver muito mais gente na mesma situação. Só de pensar em começar tudo de novo com o Blu-ray já me causa arrepios!   

Um dos principais desafios do Blu-ray é conquistar os consumidores que já investiram muito no DVD. Ainda mais agora, com essa crise econômica. Conheço muitos colecionadores que se sentem perfeitamente satisfeitos com seus DVDs, ainda mais considerando que o Blu-ray se recusa terminantemente a cair de preço, tanto em software quanto em hardware… 

Essas pessoas conseguem comprar um DVD edição especial por até 5 dólares, como eu mesmo fiz na semana passada. Por que então pagar 20 ou 30 dólares por um disco com o mesmo filme? A maioria das pessoas ainda possui TVs que simplesmente não vão reproduzir a alta resolução de um Blu-ray.
De um ano para cá, tenho mudado meus hábitos de consumo, não apenas devido à recessão mas por causa das mudanças nas tecnologias ligadas ao home theater. Parei de ir toda terça-feira à loja para ver as novidades, e com isso talvez tenha ajudado a empurrar para o buraco a rede Circuit City. Prefiro agora esperar algumas semanas até que o preço caia, o que é inevitável.   

Ao mesmo tempo, no entanto, comecei a comprar discos Blu-ray que acabavam de sair. Sei que meu sistema de home theater, com os futuros upgrades, irá ganhar muito com o Blu-ray. Mas, hoje, é difícil justificar a opção de “recomprar” minha coleção de filmes apenas por causa da imagem melhor. E ainda compro alguns DVDs em promoções, com uma ponta de dúvida: será que devo parar?

É claro que o Blu-ray pode (e deve, este ano) tornar-se mais barato. Queremos que os preços cheguem aos níveis do DVD, e na atual atmosfera econômica está claro que o fator preço será decisivo. Mesmo aqueles de nós que ainda não se convenceram da superioridade do Blu-ray fariam a troca, se o custo for semelhante.

Quero passar a comprar exclusivamente discos Blu-ray, não para substituir minha coleção de DVDs, mas para complementá-la com filmes novos. Meu caro Blu-ray: desafio você a tornar-se mais acessível para mim. Afinal, o futuro é todo seu.

*Publicado em The Hollywood Reporter (01/03/2009)