Ver TV ou experimentar TV, eis a questão

Por Richard MacManus

Quanto mais aparelhos da sua casa estiverem conectados à internet, a chamada ‘experiência do usuário’ (UX) torna-se mais importante. Sim, às vezes é difícil usar o computador; que dirá então ficar decifrando o controle remoto de um TV conectado? Por isso, estamos começando a explorar o mundo do design para esses aparelhos e a entender como os TVs estão se tornando mais interativos – e, claro, o que isso significa em seus hábitos de consumo.

A principal questão, em se tratando de UX, sempre foi o controle remoto. Como se sabe, é um acessório com muitos botões, e se você for uma pessoa como eu provavelente não sabe para que a maioria deles serve. Não é culpa sua, e um “defeito de fabricação” que tem a ver com UX. Fabricantes como Samsung e Sony acrescentam mais conteúdos ao seus TVs, pela internet, e naturalmente não faz sentido acrescentar mais botões aos controles. A solução pode ser de dois tipos: usar modos mais naturais de controle, como por gestos, e personalizar o TV para cada usuário.

Em agosto de 2011, durante a UX Week, Brian Stone, da Universidade Ohio State, notou que até agora os fabricantes de TVs têm se preocupado mais com melhorias no hardware: telas maiores, novos tipos de display, 3D etc. Ele argumentou que o necessário, mesmo, é melhorar a experiência do usuário. Isso porque, na era da internet, as pessoas podem interagir com conteúdos e aplicativos muito mais do que na transmissão tradicional de televisão.

Uma das soluções é introduzir mais interações gestuais. A nova linha de TVs Samsung que chega ao mercado este ano inclui comandos por voz e movimentos, além de reconhecimento facial. Na verdade, uma das tendências emergentes em televisão nada tem a ver com conteúdo ou especificações, mas com a forma de interação entre usuário e aparelho. Essas interações devem se tornar cada vez mais naturais do que o mero ato de apontar o controle remoto para a tela e pressionar botões. Em vez disso, nossos televisores irão reconhecer nossos rostos e responder a nossas vozes e aos gestos de nossas mãos.

Pense, por exemplo, em recursos como o Kinect (da Microsoft) e o Siri (da Apple). Imagine-os instalados dentro de televisores de outros fabricantes. Num vídeo-demo da Samsung, o usuário pede ao TV para abrir o navegador e mexe sua mão para acionar o cursor. Aquele “clique” típico do computador está sendo substituído pelo simples abrir e fechar da mão.

Na verdade, o controle remoto ainda não está morto. Vai levar algum tempo antes que a maioria dos consumidores adote essas novas formas de acionamento, e é provável que quando isso acontecer estejamos falando de recursos ainda mais incríveis que os fabricantes irão criar.

Mesmo com os controles por gesto e voz, ainda há boas razões para ter um teclado. Mover sua mão para cada letra ao digitar na tela não é algo confortável, nem eficiente, quanto a digitação convencional. Alguns controles já estão vindo com teclados interativos, justamente para isso.

Outra tendência – que foi mostrada na última CES, em janeiro – é a convergência entre a televisão e as plataformas móveis. Serviços como Ubuntu e MobiTV caminham nessa direção, e alguns fabricantes estão criando plataformas abertas a desenvolvedores que criem mais recursos interativos. Depois de um início decepcionante, o Google TV tenta agora se relançar no mercado, via parcerias com Sony e LG, entre outros fabricantes. A plataforma traz vários recursos do Android para a tela do TV, sendo um dos destaques o primeiro TV da Lenovo (modelo K91), que vem com o sistema operacional Ice Cream Sandwich instalado.

A interface de usuário de nossos TVs irá cada vez mais se parecer com uma plataforma móvel, com conteúdos, aplicativos, jogos e tudo mais que os desenvolvedores conseguirem sonhar e adaptar à tela grande. Sabe-se, por exemplo, que os TVs da Apple virão com uma versão ampliada de seu iOS.

Uma outra maneira de melhorar a experiência do usuário com seu TV é personalizá-la. Já existem projetos em que as telas de todos os aparelhos de uma pessoa são semelhantes: TV, smartphone, tablet, controle remoto… e tudo funciona com comandos de voz e/ou gestos. A navegação é personalizada, exibindo apenas os canais que aquele usuário normalmente assiste.

Mais ainda, os aplicativos que cada um vai poder baixar em seu TV também serão customizados. Seja um Facebook, Twitter ou um novo app específico para a tela grande, terá que ser desenhado levando em conta o parâmetro tradicional da indústria – a distância de 3 metros entre o usuário e o TV. A Google, por exemplo, já criou até um guia para desenvolvimento de aplicativos com essa finalidade. Todo mundo na indústria sabe que uma boa experiência de usuário é fator-chave para o sucesso. A Apple que o diga!

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