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Banda larga de 3o. Mundo

É sugestivo o relatório divulgado nesta 6a. feira pela Cisco, com base em estudos das universidades de Oxford (na Inglaterra) e Oviedo (Espanha), sobre a qualidade das redes de banda larga em vários países (leia aqui reportagem de Renato Cruz, no Estadão, a respeito). A constatação que me parece mais interessante: quantidade não significa qualidade, ou seja, não é porque um país “universaliza” o serviço que se atinge uma qualidade satisfatória. Ao contrário, geralmente as duas coisas são incompatíveis.

Pelo ranking montado a partir do estudo, os cinco países com melhores redes de banda larga são, pela ordem, Japão, Suécia, Holanda, Letônia e Coréia do Sul. A poderosa e avançada Alemanha aparece apenas em 9o. lugar, enquanto os EUA vêm em 16o. Entre os dez primeiros também não aparecem países que têm grandes operadoras, como França, Espanha, Inglaterra e Itália. Curiosamente, países do leste europeu, onde até outro dia a tecnologia era precária, colocam-se bem nessa classificação, casos de Letônia (4o. lugar), Lituânia (7o.) e Eslovênia (10o.)

A parte mais interessante do estudo, para nós brasileiros, está no final do ranking. A pesquisa incluiu 42 países, e o Brasil aparece em 38o. lugar. Ruim? Sem dúvida, mas ainda na frente de países como México, China e Índia. Vejam que todos são países de grande população e sistema de comunicações extremamente concentrado e/ou dependente do Estado. Quando isso acontece, como vemos aqui no Brasil, a prioridade é universalizar o acesso, levando banda larga ao maior número possível de pessoas. O problema: é banda larga de má qualidade.

No Brasil, por exemplo, bate-se recorde atrás de recorde no número de assinantes. Segundo o último relatório do IDC, atingimos em junho último um total de 10,4 milhões deles, um crescimento absurdo de 48% sobre 2007. Se por um lado isso é bom, o serviço continua sendo de péssima qualidade – como admite o próprio presidente da Cisco, Pedro Ripper, na reportagem do Estadão. Sem citar nomes, é claro (as operadoras compram equipamentos da Cisco), ele acha que a situação só melhora com usuários mais educados a respeito do sistema e com maior transparência por parte das empresas. Leia-se: chega de tentar enganar o assinante, prometendo velocidades de acesso de 2, 4 ou 8Mbps, quando se sabe que, da forma como são feitos os contratos entre operadoras, provedores e fabricantes, só é possível garantir 10% dessas bandas.

Enfim, não é um problema apenas brasileiro. Estive recentemente na Europa e nos EUA e vi que nem sempre a banda larga é aquela maravilha que se pensa por aqui (aliás, comentei isso aqui em 17 de agosto). A diferença, a meu ver, é que no Brasil a propaganda enganosa e a falta de fiscalização do governo são a regra. Por isso, concordo com Ripper: o usuário tem que ficar mais atento e exigente.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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