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Ironias de barriga cheia

Recorro mais uma vez ao Estadão para comentar reportagem deste sábado sobre a entrada da Oi no mercado paulista. Em entrevista, o presidente da operadora, Luiz Falco, faz ironias com as concorrentes (Vivo, Claro e Tim, além da minúscula Aeiou). “Gostaria de agradecer aos concorrentes, porque deixaram uma parcela de mercado reservada para nós”, disse o executivo.

Essa parcela, segundo ele, é calculada em pelo menos 12% do mercado no maior estado do País, que teria somente 79% de sua área coberta pelos serviços de celular, enquanto o Rio teria 91%. Isso dá mais ou menos 2 milhões de novos assinantes, que é quanto a Oi espera conquistar até o fim deste ano, com uma série de promoções bem agressivas.

Bem, deixando de lado a disputa de mercado, que é sempre salutar, vale lembrar as condições em que a Oi está entrando no mercado paulista. Como se sabe, a operadora é apadrinhada do governo federal. Recebeu mais de R$ 8 bilhões do BNDES e do Banco do Brasil para adquirir o controle da Brasil Telecom, mesmo estando esse negócio ainda dependente de decisões da Anatel e da Justiça. Quer dizer, o governo Lula antecipou o financiamento a um acordo que pode nem sair (embora eu, sinceramente, não acredite). E por quê? Porque a Oi (ex-Telemar) é de propriedade dos grupos LaFonte e Andrade Gutierrez, que são sócios do filho do presidente Lula e estiveram entre os principais financiadores da campanha de Lula em 2006.

Resumindo: a Oi não é uma operadora qualquer. Pode se dar ao luxo de gastar o que quiser em promoções, marketing etc., que – como diz o jornalista Elio Gaspari, da Folha de S.Paulo – “a viúva garante”. Se estivéssemos num regime de plena concorrência, seria ótima a entrada de mais uma operadora no mercado. Mas, infelizmente, não é o que se vê.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Orlando, a vergonha total é que a Procuradoria Geral da Repúblca não toma qualquer providência com relação a esta transação espúria que afronta a nossa constituição e as leis vigentes das telecomunicações. A Anatel virou um antro da petralhada, sem qualquer função de interesse público. Que tristeza!!!

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